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opinião

O coronavírus e a cloroquina: quando exigir consenso é um tremendo contrassenso

Cientistas publicam carta aberta ao Ministro da Saúde

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Mão segurando dois comprimidos (Dmitry Bayer / Unsplash)

O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, desaconselha o uso da (hidroxi)cloroquina ou sua associação com azitromicina (HCQ + AZT) para doentes não-graves, e justifica sua decisão pela “falta de consenso científico”. “Ciência, ciência, ciência, seguimos a ciência!”, proclama o Senhor Ministro, soando, para muitos, como culto e prudente. Porém, ele está equivocado!

Pois o que seria essa ciência que o Ministro afirma seguir? E haveria tempo suficiente para esperar por uma resposta, definitiva e consensual, de uma comunidade científica? E quem falaria, de fato, em nome dessa ciência consensual, para anunciar o seu veredito?

Sou um cientista, químico e bioquímico, e já atuei em várias áreas da medicina e de análises clínicas. Meu grupo desenvolveu um método inovador e rápido de diagnóstico de zika. Minha filha — Lívia Eberlin — desenvolveu uma caneta para diagnóstico seguro de câncer e, juntos, trabalhamos em um método rápido de diagnóstico para o coronavírus.

São dados obtidos nesta semana, e, se tais dados forem confirmados, teremos algo muito inovador a oferecer pela ciência. Atuo em ciência há mais de 40 anos, coordenei um grupo de pesquisas com mais de 55 doutores e pós-doutores, já orientei mais de 200 deles, e publiquei mais de 1.000 artigos científicos com quase 25 mil citações.

Desculpe a falta de modéstia, mas se ciência é a questão aqui, tenho que dizer que sou um dos cientistas brasileiros mais produtivos da ciência brasileira contemporânea. Atuo, também, em uma área da ciência que estuda nossas origens, na qual uma teoria é apresentada como pleno consenso científico; entretanto, mesmo em meio a este “consenso”, ainda reinam mais dúvidas do que certezas. No fundo, nós cientistas só sabemos que quase nada sabemos!  Mas se um pouco sabemos, que usemos este conhecimento já, aqui e agora!

Com a autoridade científica que meus feitos me outorgam, não tenho dúvidas em declarar que o Senhor Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, equivoca-se tremendamente ao clamar por consenso científico nas atuais circunstâncias.

Consenso, não raro, diz respeito a políticos. Mas como afirma Richard Feynman, um dos maiores físicos e filósofos da atualidade: “A ciência é a cultura da dúvida”. Jamais teremos certeza consensual em ciência! É evidente que o acúmulo de muitos dados ao longo de vários anos de pesquisas pode certificar algumas hipóteses e derrubar outras, provisoriamente. Mas a dúvida sempre persistirá. E é preciso que persista a fim de que a própria ciência avance e se aperfeiçoe.

Portanto, exigir consenso científico e que cientistas em suas sociedades científicas se reúnam e cheguem em uma posição consensual, em meio a uma pandemia, é revelar temor em agir num momento premente como o que vivemos. Para a cloroquina no tratamento do Covid-19, pedir consenso de seres por natureza céticos e questionadores é solicitar o impossível, para justificar uma omissão. É ignorar as evidências que já temos em nome de muitas evidências que até poderão surgir, porém, tarde demais; quem sabe depois da morte de muitos.  É se negar a desviar o Titanic, enquanto se espera um consenso sobre se a mancha no radar é mesmo um iceberg à frente.

Em Portugal, por exemplo, médicos do Ministério da Saúde adotaram o HCQ + AZT para tratar o Covid-19, tomando essa decisão com pouco mas expressivo embasamento científico, frente aos resultados do primeiro estudo do professor Didier Raoult e seu numeroso grupo de pesquisadores e de especialistas do Instituto Ricardo Jorge (onde há pesquisadores com elevada produção científica que estudam a malária e outras doenças tropicais), e do Instituto de Medicina e Higiene Tropical da Universidade Nova de Lisboa.

Os portugueses esperaram por consenso científico? De duas sociedades científicas? Pediram estudos clínicos multicêntricos com duplo cego envolvendo um número de casos cientificamente válido? Evidentemente que não!  Seria um contrassenso imenso insistir em exigir coisas assim numa hora como esta! Pois estudos desta natureza seriam demorados demais (pelo menos 12 meses), e o vírus que enfrentamos não tem clemência por temerosos e retardatários. Pior, estudos com esta metodologia são difíceis de serem aplicados em doenças infecciosas, pois colocariam em risco a vida dos participantes nos grupos de controle e/ ou de placebo. Na verdade, nem sequer seriam aprovados em muitos Comitês Científicos de Ética.

Os portugueses, caro Ministro Mandetta, foram bravos, corajosos e plenamente científicos. Usaram as evidências empírico-científicas de que dispunham e não hesitaram: agiram, rapidamente, pois era hora. Siga esse protocolo de sucesso!

Descartar um tratamento com baixo risco e com potencial para salvar muitas vidas, mesmo que possa até não funcionar, dar empate, é uma atitude moralmente inadmissível! E, por que não, cruel.

Argumentos sobre a não cientificidade do uso de HCQ + AZT, ou, que devemos usá-las somente após ser declarado esse um consenso científico ignoram o que é ciência, como se constroem consensos científicos, sua efetividade em muitos casos, é verdade, mas, outrossim, suas inegáveis limitações, em outros.

Seria muito bom conhecer mais, se tempo tivéssemos, mas os dados disponíveis atualmente clamam com veemência pelo uso da cloroquina, e já!

E quais seriam estes dados?

A favor da HCQ + AZT temos:

  1. A cloroquina já é usada há décadas, conhecemos as dosagens, as suas contraindicações.
  2. Africanos a tomam todos os dias, e missionários na África são aconselhados a tomar doses diárias. Muitas vidas na África talvez sejam salvas por essa “feliz coincidência”. 
  3. Não há relatos científicos de muitas mortes ou sérios efeitos colaterais pelo uso da HCT.
  4. Vários estudos fervilham no Brasil e no mundo mostrando sua eficácia. A Prevent os tem aplicado preventivamente em centenas de seus pacientes idosos, com muito sucesso.Uma pesquisa na literatura científica (sciFinder e outros) sobre a HCT retorna muitos registros de seu efeito antiviral, inclusive no tratamento de zika. 
  5. Um dos maiores especialistas em epidemias no Brasil, entre eles um pesquisador sênior e altamente produtivo e respeitado, o Dr. Paolo Zanotto, aconselha fortemente seu uso. 
  6. O pior efeito colateral é a morte, e este efeito colateral ronda milhares no Brasil pelo não uso da HCQ+ AZT! 
  7. Vários médicos têm feito uso próprio da HCQ + AZT, em casos “brandos”, inclusive o coordenador da equipe de Governador Dória em SP, o Dr. David Uip. Por que para ele pode, e para o povo, não pode? Um amigo meu, biólogo e cientista, consultou seu médico, tomou e sarou, em poucos dias. 

Contra temos:

  1. A falta de consenso científico.

Ou seja: é uma goleada cientifica de 7 x 1 a favor da cloroquina ou da dupla HCQ+ AZT.

Caro Ministro, ciência é o pesar das evidências que temos, aqui e agora. É agir hoje, com coragem e esperança.

Errar é humano, mas errar por esperar consenso científico é isenção hedionda, pois o inimigo já derrubou as nossas muralhas e está a ceifar as vidas de nossas mulheres e filhos.

Há relatos de pobres morrendo clamando pela cloroquina! Pois os ricos e poderosos, como o Dr. Uip, estão sendo todos tratados por seus médicos particulares com HCQ + AZT, e, por um motivo qualquer que ainda me é obscuro, negando-se a revelar a receita da cura. Médicos não abandonam seus pacientes, e também não lhes negam a receita!

Mas ainda há tempo e esperança. E, Senhor Ministro, estou certo de que tomará a decisão correta.

Não corra o risco de ter sobre vossa consciência o peso da morte de centenas ou milhares de pessoas que poderão morrer sem sequer ter a chance de testar a terapia.  Seja corajoso, seja científico! Autorize o uso da ciência que temos aqui e agora, a ciência de hoje!

Ministro: se errar, erre tentando, empatando! Mas se acertar, acerte ganhando, salvando vidas!

*******

Coassinam esta carta os seguintes cientistas:

NOME INSTITUIÇÃO CITAÇÕES
Marcelo Hermes Lima Universidade de Brasília 6365
Aguimon Alves da Costa Universidade Cândido Mendes
Alexandre Barbosa Andrade Universidade Federal de Ouro Preto
Amilcar Baiardi Universidade Católica de Salvador 2483
Bruno Lima Pessoa Universidade Federal Fluminense 50
Carlos Adriano Ferraz Universidade Federal de Pelotas 8700
Carlos Prudêncio Instituto Adolfo Lutz 228
Cesar Gordon Universidade Federal do Rio de Janeiro 754
Cláudio Antônio Sorodo Días Universidade Federal da Grande Dourados
Eduardo Gonçalves Paterson Fox sem filiação 418
Elvis Böes Instituto Federal de Brasília 685
José Carlos Campos Torres Universidade Estadual de Campinas 115
Laércio Fidelis Dias Universidade Estadual Paulista 121
Leonardo Vizeu Figueiredo Escola da Advocacia-Geral da União 288
Maira Regina Rodrigues Magini Universidade Federal do Rio de Janeiro 177
Marcio Magini Universidade Federal do Rio de Janeiro 207
Milton Gustavo Vasconcelos Barbosa Universidade Estadual do Piauí
Ney Rômulo de Oliveira Paula Universidade Federal do Piauí
Pablo Christiano Barboza Lollo Universidade Federal da Grande Dourados 1116
Pedro Jorge Zany P. M. Caldeira Universidade Federal do Triângulo Mineiro 65
Rodrigo Caiado de Lamare PUC-RJ e University of York 11341
Ronaldo Angelini Universidade Federal do Rio Grande do Norte 664
Rosevaldo de Oliveira Universidade Federal de Rondonópolis 17
Rui Seabra Ferreira Junior Universidade Estadual Paulista 1318
Luís Fabiano Farias Borges CAPES
Jane Adriana Ramos Ottoni de Castro Universidade de Brasília
Martinho Dinoá Medeiros Júnior Universidades Federal de Pernambuco
Marcos N. Eberlin Universidade Presbiteriana Mackenzie 24941
Marcus Vinicius Carvalho Guelpeli Universidade Federal dos Vales do Jequitnhonha e Mucuri 95
Leonardo de Azevedo Calderon Fundação Oswaldo Cruz 1230
José Roberto Gomes Rodrigues Universidade do Estado da Bahia
 total de citações 61378

Graduação (1982), mestrado (1984) e doutorado (1988) em Química pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e pós-doutorado no Laboratório Aston de Espectrometria de Massas da Universidade de Purdue, USA (1989-1991). Foi professor titular MS-6 da UNICAMP, onde fundou e coordenou por 25 anos o Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas (http://thomson.iqm.unicamp.br). Hojé é docente e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordena o Núcleo de Pesquisas Mackenzie em ciência, Fé e Sociedade – Discovery Mackenzie.

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