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cosmovisão

Midá Kenégued Midá, a régua de Deus

A medida que usarmos com o próximo Ele usará conosco.

em

Régua de Deus
Imagem ilustrativa (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

“Com a medida com que tiverem medido vocês serão medidos…” (Marcos 4:24)]

Imagine-se um rei muito poderoso e que precisa criar uma maneira de estabelecer a medida que usará tanto para recompensar como para punir seus súditos por suas atitudes. Certamente, muitas seriam as possibilidades, porém todas apresentariam, em alguma proporção, aspectos que poderiam não ser tão justos em determinadas circunstâncias.

Pois bem, em algum momento da eterni­dade, Deus precisou firmar esse critério e, como em tudo o que faz, lançou mão da simplicidade e da perfeição.

Em sua infinita sabedoria, fez o seguinte: permitiu que, por meio da maneira como nos comportamos com nossos semelhantes, nós mes­mos forjemos a régua que Ele usará conosco para nos recompensar ou nos punir, conforme obedeçamos ou não a seus Mandamentos.

Em outras palavras, a medida que usarmos com o próximo Ele usará conosco (atente-se para a ótima notícia: há total liberdade para estabelecer essa medida!).

Assim, na mesma intensidade que formos generosos, bondosos, misericordiosos, criteriosos ou exigentes com as outras pessoas, igualmente o Céu será conosco.

No judaísmo, os rabinos ensinam que esse é um princípio aplicável a todas as áreas da vida: finanças, honra, socorro, perdão, justiça etc., e o denominam Midá Kenégued Midá, ou seja, Medida por Medida.

No Talmude aprende-se que “… O céu mostra misericórdia àquele que é misericordioso para com os outros, mas não mostra àquele que não o é” (Shabat 151b) e ainda “Com o instrumento de medida com que o homem mede, ele será medido” (Tsedacá e Chessed, cap. 1, p. 11). O rabino Zusha (1718-1800) certa vez asseverou: “… o Todo-Poderoso conduz-se conosco conforme nós nos conduzimos com os outros”.

Mas seria esse um princípio religioso específico do judaísmo, capaz de produzir efeitos apenas entre os adeptos dessa religião ou é algo universal, isto é, aplicável a todos os seres humanos? Sem dúvida, ele se aplica a todos.

Jesus não apenas o ensinou, mas ainda fez questão de chamar a atenção para ele, dada sua especial relevância.

Na oração do Pai-Nosso, há uma de suas facetas: “… perdoa nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido…” (Mt 6:12). Nesse caso, foi utilizado para a questão do perdão, contudo ele influencia todas as áreas da vida. O escritor norte-americano John Bevere, em seu livro A recompensa da honra, aborda como a honra que dedicamos às outras pessoas atrai a honra dos céus em nosso favor.

Em outro momento, Jesus fala ainda mais abertamente desse princípio: “Porque Deus julgará vocês do mesmo modo que vocês julgarem os outros e usará com vocês a mesma medida que vocês usarem para medir os outros” (Mt 7:2).

Isso é tão importante que Jesus chega a insistir que se tenha cuidado: “Prestem bem atenção no que vocês ouvem. Com a medida com que tiverem medido vocês serão medidos e mais ainda lhe será acrescentado” (Mc 4:24).

Diante da revelação desse poderoso princípio celestial, que foi afirmado e ensinado pelos profetas, pelos sábios e até mesmo por Jesus, temos que ficar absolutamente atentos quanto à maneira como nos comportamos com nossos semelhantes.

Às vezes, alguém pode ser levado a acreditar que é melhor do que outras pessoas por ter se dedicado mais a alguma atividade e, consequentemente, estar, pelo menos nesse aspecto, numa situação aparentemente melhor.

Essa crença pode levar facilmente a ser severo, escrupuloso, exigente, criterioso e até orgulhoso nos julgamentos, nos pensamentos e na disposição em ajudar. É exatamente contra essa forma de pensar e de agir que Jesus alertou.

Parafraseando o rabino Zusha: se alguém fizer o bem “… até ao indigno, o Céu será leniente e bondoso para com ele, mesmo que ele também seja indigno”.

Mas, antes que se pense não ser “indigno”, lembre-se que, diante de Deus, todos somos indignos. Em questão de santidade e dignidade, há mais proximidade com o mais terrível e abominável pecador que já existiu neste mundo do que com Deus. Isso por uma simples razão: diante de quem é absoluta e infinitamente puro, qualquer sujeira é uma imundície. Já entre dois pecadores é apenas uma questão de mais sujo e menos sujo, pois ambos estão contaminados e, não fosse o sacrifício expiatório do Cristo, estariam todos definitivamente separados d’Ele.

Enfim, é preciso evitar ser “demasiadamente justos” (Eclesiastes 7:16) nas relações interpessoais, pois quem assim agir encontrará um Céu também “demasiadamente justo” e que sonda não apenas as atitudes, mas até mesmo os pensamentos e as motivações. Portanto, ao contrário, o caminho é ser misericordioso, benevolente, desapegado, generoso, ainda que isso resulte em eventuais prejuízos financeiros. No final, só se tem a ganhar quando se “faz o bem, sem olhar a quem…”.

Trecho do livro “Princípios para a vida – dos Céus e da Terra”,

Advogado, escritor e palestrante. É autor de seis livros e co-autor de outros. Em seus textos, aborda temas religiosos, jurídicos e de aconselhamento profissional e pessoal. É mestre Direito pela Universidade de Girona, na Espanha, e possui cinco pós-graduações lato sensu. Casado com Raquel e pai de três filhos, Enzo, Giovanah e Vitório.

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