Siga-nos!

opinião

A magia do natal publicitário: o divórcio do rei e da rainha

Você já deve ter visto este filme publicitário feito para o Natal.

em

Em um teatrinho de fantoches caseiro a menininha linda e dócil sacode dois bonequinhos e diz: “Ah, então o rei e a rainha não vão mais morar no mesmo castelo? Que absurdo!… Absurdo nada, o rei e a rainha continuam sendo os melhores amigos do mundo. A jovem princesa continua amando os dois, igualzinho. E sempre que ela precisar eles estarão juntos, do seu lado, como uma magia de natal”. A cena muda e fecha em um homem e uma mulher que dizem um ao outro: Os melhores amigos do mundo? Os melhores amigos do mundo. E se abraçam. Sobe a melodia.

Este é um tema sensível, o divórcio. E porque é sensível? Porque as coisas, muitas vezes não são como esperamos. Sonhos quebram, e o príncipe sobe em seu cavalo branco e deixa o palácio. E essa situação já foi percebida até pelas empresas de cosméticos. O roteiro mudou, saiu de cena a família do comercial da margarina, todos juntos, felizes ao redor de uma mesa, entra no palco a dura realidade da família moderna, separada, com pai e mãe morando em casas diferentes e filhos divididos.

O divórcio, que é o esfacelamento de uma família, por mais que as campanhas publicitárias se esforcem para amenizar o baque, causa graves feridas e contusões na alma das pessoas. Eu conheço, e quem não conhece pessoalmente, casais que passaram por isso e, todos sabemos  que depois de um rompimento no casamento os danos são cruéis até para a família estendida, avós, tios… Vida que segue? Não, a vida não segue. O que segue são tentativas de amortecimento como esta do comercial. Crianças sofrem em silencio e tentam reconstruir os pedacinhos de seus corações, tentam enxergar os pais como reis e rainhas ainda, mesmo que fora do castelo familiar.

E nesse aspecto esse filme publicitário foi magistral, pois denunciou o malabarismo que é tentar consertar o fiasco da separação.

Ao mesmo tempo em que vejo este filme publicitário nos intervalos do jornalístico, ouço também uma noticia sobre o aumento na proporção das mulheres que assumem o papel de provedoras e chefes de família. A noticia diz respeito a uma pergunta que o IBGE faz às famílias entrevistadas: quem é o chefe da família? E de acordo com as respostas obtidas chegou-se a um percentual de atuais 40% de mulheres que se dizem serem chefes de famílias. E este percentual está em acelerada ascensão desde a década de 80. Pode ser que de cara não se veja nenhum paralelo ou ponto de intersecção entre o filme publicitário e a pesquisa do IBGE, divórcio e crescimento de mulheres dirigentes de família. Principalmente porque muitas das que responderam ao instituto, têm seus maridos dentro de casa, ainda.

Ou será que tem um ponto de encontro entre essas duas realidades? Não pretendo correr atrás de uma resposta mais significativa agora neste texto, mas, penso que a estrutura familiar hoje está esticada ao máximo, não deixando espaço para respiros. Princesinhas e principezinhos se veem em condições de solidão completa dentro de casa. Mas, vamos voltar a peça publicitária novamente.

A empresa que a veiculou tem como slogan o mote, Acredite na beleza. Esse lema é um apelo bem significativo para a família, e o que está por trás dessa peça publicitária é que o divorcio não é tão feio assim. Segundo a empresa, há uma certa beleza nesses escombros todos deixados pela separação dos pais, há ainda uma magia de Natal.

O mais sensato mesmo é admitir que não há parte boa no divorcio por mais que se queira. Quem acredita em um casamento duradouro hoje em dia? Certamente que nós, os cristãos,  acreditamos e estamos quase sozinhos nesse acreditar. E a menininha narrando a historia fictícia de vida da sua família é tocante por representar tantas outras crianças que se veem destituídas da presença do rei, e em alguns casos da rainha-mãe, ou de nenhum dos dois, porque o castelo ficou mais vazio, oco. O filme só não fala nada sobre a sequencia de fatos e acontecimentos que vem depois como resposta a busca de preenchimento desse deslocamento. A multiplicação de padrasto é uma realidade no nosso mundo moderno. Quando uma empresa de cosmético decide apostar em um tema doloroso como este, eles têm em mente algo, o quê? Contar historias, alcançar um público e vender sua marca. O curioso é constatar que as famílias que passam pelo rompimento do divorcio agora são também um nicho no mercado. Elas existem, elas sofrem, elas seguem tentando e são agora uma fatia aprazível a ser conquistada por empresas.

Mas, para aquele que projetou a família ela continua sendo alvo de sua generosidade e atenção. Deus odeia o divórcio porque em sua sabedoria eterna ele vê o sofrimento silencioso de todos os que passam por isso. Você já reparou que concomitantemente ao aumento do divórcio vem aumentando também a indústria de casamentos? Do que se trata isso. Trata-se de cópias malsucedidas daquilo que Deus projetou magnificamente. O casamento é uma obra perfeita de Deus, mas que sofreu o prejuízo da queda. Mas, no meio das famílias da Aliança ele poderá ser visto com maior magnificência, porque o rei e a rainha moram em um castelo construído pela graça divina. E neste castelo os pequenos príncipes e princesas estarão em segurança, e só assim o marido e esposa, de fato, serão melhores amigos. A verdade é que o divórcio causa inimizades amargas que filme publicitário nenhum saberá ensaiar. Uma vez que um casal rompe eles não são mais amigos, e muito menos “melhores amigos”, eles se toleram e fingem civilidade. Por dentro o que fica é orgulho ferido e ensaio de educação. Quando o coração que foi entregue é partido não há amizade que se sustente.

O maior desafio do casamento segundo os propósitos de Deus reside na ideia de consumação e transformação, o uma só carne levada a instancias de completude. E todo este processo é o aprender cuidar do interesse do outro. Toda a individualidade é dissolvida ao longo da convivência até ao ponto de amalgamação total. A minha dor é substituída pela dor do meu cônjuge, a minha felicidade está no sorriso dele. O meu corpo é ele.

Quando vemos que o mundo não entendeu o que é casamento até hoje, podemos entender que este mistério do qual fala o apóstolo Paulo é mesmo de difícil entendimento. Principalmente pelo fato de que, quando se fala em casamento pensamos tratar-se de um homem e uma mulher. Mas, trata-se de verdade, de Cristo e o mistério da piedade e do resgatar uma noiva para a Sua glória. Paulo diz: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”. Ef 5:32.

Pode até ser tocante ver uma menininha tentando explicar e amenizar erros dos seus pais, pintando com cores de beleza viva o que já está morto. Mas, há uma outra tomada de cena futura, que é a beleza de contemplar um Rei se sacrificando numa cruz, morrendo e ressuscitando glorioso e vindo resgatar uma noiva.

Nesta cena final o marido é perseverante e a esposa é obedientemente conduzida. Em minha casa o rei e a rainha olham para este marido fiel e tenta seguir corajosamente seus passos, porque cremos que o felizes para sempre existe sim. Há beleza na união firmada na Palavra, nossa âncora. Somente ela poderá fazer com que nossos castelos familiares mantenham-se firmemente em pé.

Que o Rei nos guarde fiel até a sua vinda.

Jornalista e escritora, com um livro publicado "Feminilidade Bíblica - Repensando o papel da mulher à luz de cantares", e também escritora de livro didático. Casada com Nelson Ferreira, pastor da IPB, mãe da Acsa e avó da Clarisse. Em breve publicará seu primeiro romance .

Trending