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Jovens cristãos embarcam para a África em missão humanitária

O projeto “Let’s go to Africa” atua com meninos escravizados pela cultura islâmica em Burkina Faso .

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Jovens da CACEMAR
Jovens da CACEMAR (Foto: Reprodução/Arquivos Pessoais)

Pelo segundo ano consecutivo, William Barth, estudante de Direito de 22 anos, não passou o Natal, o Ano Novo e o seu aniversário com sua família no Brasil. O motivo é por uma boa causa: ele embarcou para Burkina Faso, na África, numa expedição missionária e humanitária formada por jovens cristãos.

Junto com William, mais 15 jovens voluntários participam da Expedição 2020 “Let’s Go Africa”, da ONG CACEMAR (Centro de Acolhimento Casa Esperança e Missão Refúgio) . Eles passarão 30 dias no país africano de cultura islâmica, desenvolvendo projetos de inclusão e justiça social com crianças e mulheres que vivem em situação de extrema pobreza.

O “Let’s go to Africa” já está em sua segunda edição e implantou diversos projetos humanitários na base do CACEMAR em Burkina Faso: Escola de Ballet para meninas; Esporte Burkina com aulas de futebol, basquete, vôlei e tênis; atendimento de saúde; Oficina de panificação para mulheres e atividades recreativas pedagógicas. Neste ano, também serão desenvolvidos novos projetos como o Mini Confeiteiros, atendimento psicológico e a construção de fornos para viúvas em duas aldeias.

Seguindo os passos do avô

William Barth

William Barth (Foto: Reprodução/Arquivos Pessoais)

O projeto de voluntariado que envia jovens para promover impacto social e ajudar na missão da ONG em Burkina surgiu despretensiosamente e de maneira bem informal. Em 2019, os diretores do CACEMAR no Brasil, o casal Jeferson Luiz e Kamila Bianchi, conheceram o jovem William Barth em um evento evangélico, fizeram amizade e  mais tarde o convidaram para viajar a Burkina Faso junto com eles.

William aceitou o convite sem hesitar e contou sobre a ONG para alguns de seus amigos, que também se apaixonaram pelo trabalho e toparam o desafio de viajar naquele mesmo ano para a África. Assim, nasceu o primeiro grupo de voluntários do Projeto, que William denominou de “Let’s go to Africa”.

O jovem, conhecido pelos seus amigos por Will, cresceu com os avós no campo missionário no interior do Rio Grande do Sul e diz que desde lá possui um desejo missionário. “Lá começou os primeiros passos, desde pequeno o Senhor começou a plantar sementes no meu coração sobre o trabalho missionário. E meu avô sempre me motivou a persistir no ministério, ele foi um potencializador de Deus na minha vida”, conta Will.

Seu avó, o pastor Oniro de Souza, gastou a sua vida trabalhando pelo Reino de Deus na Igreja Assembleia de Deus no RS, e infelizmente, em novembro faleceu vítima de covid-19. Mas ainda em vida, pode presenciar o neto seguindo os seus passos, quando ele mesmo entregou o certificado de ordenação ao ministério para William, durante a cerimônia de consagração de novos obreiros em sua igreja no início de 2020.

Para Will, a vida e o ministério de seu avô lhe impactaram profundamente, o fazendo refletir para quem e para o que vale a pena viver: “A vida do meu avô me fez refletir que a vida do cristão pode ser bem mais do que nascer, estudar, se formar na faculdade, trabalhar, constituir família e morrer. O maior legado que podemos deixar é o que fazemos pelo Reino e pelas almas. É por isto que vale a pena viver”.

Hoje, Will trabalha como assessor do CACEMAR no Brasil e lidera, junto com os diretores Jeferson e Kamila, a segunda expedição do “Let’s go to Africa”.

Meninos garibous, os escravos modernos

Crianças dormem em bancos em Burkina Faso

Meninos garibous exaustos pela pesada rotina que são submetidos (Foto: Reprodução/Arquivos Pessoais)

A principal frente de atuação da ONG CACEMAR é com os Garibous, conhecidos como “escravos modernos”; são meninos de 5 a 17 anos que são submetidos a condições análogas à escravidão em Burkina Faso. Essas crianças são entregues por seus pais a líderes islâmicos, chamados de marabous, para aprenderem o alcorão e se tornarem líderes religiosos ao crescerem.

Os garibous tem sua infância roubada para viver em grandes galpões numa situação deplorável. Eles são obrigados pelos mestres a levantarem muito cedo para decorar os versos do Alcorão. Caso não consigam decorar, são castigados apanhando ou torturados com moedas aquecidas que são colocadas sobre suas costas.

No período da tarde, precisam mendigar moedas para os marabous. Eles perambulam quilômetros e quilômetros para conseguir esmolas. Levam consigo uma velha lata vermelha pendurada por um fio a tiracolo para guardar as moedas e os restos de comida que ganham pelo caminho. E se não arrecadam o valor estipulado pelos marabous, são castigados novamente. É uma questão cultural islâmica muito arraigada; os pais acreditam que enviando seus filhos para essas escolas islâmicas a família herdará os céus.

Foi presenciando tamanha injustiça e necessidade, que a Missionária Rejane Kologo criou, em 2001, o CACEMAR na cidade de Bobo Dioulasso em Burkina. Junto com seu esposo Mamadou Kologo, que é o pastor da igreja local, tem trabalhado para proporcionar um pouco de conforto e amor para esses meninos já tão calejados pela vida.

O Centro de Acolhimento Casa Esperança recebe cerca de 300 meninos garibous toda semana. O local é um espaço onde eles podem ser crianças de verdade; podem brincar, se alimentar e descansar.  Durante três vezes na semana, eles recebem café da manhã, e duas vezes ao mês é servido um almoço. A Casa Esperança conta também com atendimento ambulatorial para atender os meninos que, por muitas vezes, chegam com ferimentos.

A primeira coisa que muitas dessas crianças fazem ao chegar ao Centro é deitar e dormir por estarem exaustos da pesada rotina que são subjugados. Depois de passar um período de seu dia lá, eles precisam voltar às escolas islâmicas onde moram.

A ONG também possui um segundo espaço chamado Casa Refúgio, onde são abrigados meninos garibous que pedem asilo. Essas crianças são acolhidas e passam a morar na Casa, recebendo educação, alimentação, refúgio e carinho.

Burkina Faso é um país de maioria mulçumana e, embora tenha um governo democrático e liberdade religiosa garantida pela sua constituição, tem caminhado para uma radicalização da população islâmica e grupos extremistas tem ganhado força. Desse modo, Burkina Faso está na 28° posição na Lista de países perseguidos do Portas Abertas, colocando o país na conhecida janela 10X40, a região no mundo mais fechada para o evangelho.

Força jovem para as nações

A 2° expedição do Projeto “Let’s go to Africa” foi mais desafiadora do que a primeira. 2020 foi um ano atípico para o mundo todo, foi o ano da pandemia. Viajar para fora do país estava mais difícil e também muito mais caro, mas o CACEMAR entendeu que não poderia deixar de ajudar quando Burkina mais precisava.

Durante meses a ONG trabalhou para a liberação da viagem com os órgãos competentes, e os jovens voluntários trabalharam para arrecadar o valor da viagem, cerca de 17 a 22 mil reais. No ano de 2020, o alto valor da expedição se justificava devido aos testes de covid-19, obrigatórios em todas as escalas, e também pelo aumento das passagens aéreas.

Os 16 jovens do Rio Grande do Sul, São Paulo e também da Bélgica que integram a Expedição 2020 passaram por um processo de seleção para participar do projeto. Também receberam orientação e preparação técnica para a missão na África, tiveram aulas de francês (que é a língua oficial de Burkina) e se encontravam uma vez na semana para orar e jejuar a favor da missão.

Os jovens missionários ainda estão levando para a África 285kg de doações, incluindo remédios e roupas, na bagagem e muito amor e vontade de servir os garibous, as meninas e mulheres burquinenses. Conheça agora um pouco da história de três desses jovens.

Irmãos unidos por um propósito

Sarah e João Martins

Sarah e João Martins (Foto: Reprodução/Arquivos Pessoais)

Sarah Martins, vestibulanda de Medicina de 20 anos, e João Pedro Martins, de 18, recém-formado no Ensino Médio, são irmãos e ambos foram selecionados para a Expedição 2020 “Let’s go to Africa”.  Os dois já participam de trabalhos sociais e evangelismo urbano; João é idealizador do “Bem na Madrugada”, um projeto com moradores de ruas em Novo Hamburgo, e Sarah participa de projetos femininos na igreja deles, a Assembleia de Deus de Estância Velha.

Em janeiro de 2019, os irmãos participaram da Escola Missionária É Tempo de Colheita (EMETC) em Antônio Padro (RS) durante um mês de imersão. Sarah conta que no início ela questionava junto com o irmão: “João, o que estamos fazendo aqui?”. Hoje, convictos de suas chamadas missionárias, eles afirmam que o tempo na EMETEC foi uma preparação para a missão que participam hoje: “Foi um despertar e hoje o que vivemos está muito ligado ao que o Senhor abriu lá”.

João viaja para a África em missão pela segunda vez. A primeira ele foi a convite do missionário Paulo Locatelli, em julho de 2019, para o Mali. Já Sarah, que sempre pensou que o seu trabalho era apenas na igreja local, está viajando pela primeira vez e conta que ainda é difícil acreditar que está partindo para o continente africano. “Eu nunca viajei pra longe assim, estamos com a mala aberta em cima da cama, separando roupa e ainda tá muito irreal na minha cabeça que estamos indo pra África, sempre foi algo muito distante pra mim” e completou rindo: “Eu achava que o João era o missionário da casa”.

Para arrecadar o valor da expedição para ambos, os irmãos criaram o Projeto “Passaport Mission”, porque entendiam que precisavam ir para a África pelo fruto do seu trabalho e esforço. Nesse projeto eles vendiam barras de chocolate trufadas e, em datas especiais, galetos e cesta de café da manhã. No total, eles venderam mil barras de chocolate, que eram produzidas por madrugadas adentro. “Talvez as pessoas nos olhem e pensem que estamos indo por sermos filhos de pastor. Mas teve muito esforço para chegarmos até aqui, não nos foi facilitado o caminho pelo fato de sermos filhos de pastor”, desabafa Sarah e aconselha “Que as pessoas saibam que Deus abre as portas para nós, mas que precisamos nos posicionar também”.

Por que África?

Israel Florentin de 25 anos, estudante de Cinema e Audiovisual, já nasceu no campo missionário em Filadélfia-Chaco no interior do Paraguai. Seus pais eram missionários no país, trabalharam com indígenas e implantaram uma igreja lá.  Faz apenas três anos que a família voltou para o Brasil.

Foi no Paraguai, vendo os pais clamarem em oração pelas almas durante as madrugadas, que o desejo de pregar o evangelho começou a arder no coração de Israel. Já com seus 16 anos, todos os sábados ele e um amigo se consagravam em jejum e oração e iam evangelizar em praças, ônibus e hospitais. Mais tarde, liderou o evangelismo jovem em sua igreja local, visitando escolas para palestrar sobre bullying e drogas.

Quando se mudou para o Brasil com sua família, Israel criou o Movimento Inconformados na igreja em que passou a congregar, a Assembleia de Deus de Canoas, para promover evangelização urbana com jovens. Em 2019, integrou a primeira expedição do “Let’s go to Africa” e ao ser perguntado por que estava voltando para a África em 2020 ele respondeu: “Não tem como não voltar! Eu entendo que eu preciso estar lá, eu preciso cumprir o que Deus me chamou para fazer. Eu tenho o compromisso de mostrar o que está sendo feito para poder arrecadar valores para continuar a obra”. O jovem usa sua profissão para ajudar na conscientização missionária; ele documenta através de vídeos e fotos todo o trabalho realizado pelo CACEMAR.

Para ele o que mais lhe marcou em Burkina Faso foi ver a realidade de sofrimento dos garibous. “Esses meninos são enganados, acreditando que a vida deles vai ser aquilo; que nasceram pra servir a Alá, viver mendigando e morrer. Me impactou ver no olhar deles o profundo sofrimento, eu fiquei muito triste com isso. Em pleno 2019, crianças sendo machucadas, mendigando, sem perspectiva, sem nada”, lamentou Israel.

Ele conta que durante toda a viagem só via tristeza e sofrimento, e começou a se questionar se aquele trabalho com as crianças daria algum resultado. A resposta para sua preocupação veio quando ele visitou a Casa Refúgio. Lá ele encontrou alegria e esperança, conheceu jovens que tinham sido garibous e que foram acolhidos e restaurados na Casa. E que, agora, já tinham perspectiva para seus futuros: alguns planejavam se graduar no ensino superior, outros desejavam o ministério. “Eu lembro que eu chorei muito na Casa Refúgio porque vi que realmente Jesus transforma vidas, que é possível mudar essa realidade. Entendi que esse é o meu compromisso; levar esperança, cura, transformação”, relata Israel.

O jovem missionário foi questionado o porquê de investir tanto dinheiro para ir à África e o porquê de não cumprir o seu chamado aqui mesmo no Brasil. A resposta de Israel foi: “Por que não África? Até hoje a igreja entrou em lugares possíveis e ninguém ainda entrou em lugares impossíveis como Burkina Faso, que é um lugar aonde tu prega e corre risco de morte. É tempo de nós entrarmos em lugares impossíveis para ganhar as pessoas”.

E em relação ao alto investimento na missão, Israel respondeu: “Não é nada esse dinheiro em relação às almas. Meu desejo pelas almas é maior que o valor. O quanto eu puder investir nas almas eu vou fazer, se for meu tempo, minha vida, meu dinheiro, vou investir”.

Jornalista formada pela UFRGS. Repórter da AD Guaíba, colunista do Blog Nam.orei e colaboradora do Blog Ultimato Jovem. Anunciando boas novas.

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