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devocional

Deserto do Sinai ou Vale do Elá: Entenda o propósito de cada lugar

Não insista em regar plantas onde não é para brotar raiz.

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Monte Sinai (Vlad Kiselov / Unsplash)

Viver com Deus é impressionante. Estamos submersos na permanente construção de nossa identidade baseada em treinamentos e processos celestiais sucessivos. Na grande maioria das vezes, não percebemos.

Estamos experimentando as etapas que nos levam a alcançar o propósito, todavia elas são confundidas com as famosas “lutas” – pela natureza difícil do momento (são muitas afrontas, renúncias, “nãos” e inúmeros gigantes na terra).

O fato de estarmos mergulhados na dureza do coração para receber o ensinamento ou na morte espiritual decorrente do pecado é que caracterizam essa cegueira. No entanto, Deus – aquele que nunca perde o controle das situações – sempre gera oportunidades para nos atrair e nos lembrar do nosso potencial, da nossa coragem, de nossa obediência, da nossa chance de evoluirmos e principalmente, da nossa ousadia enquanto filhos ungidos e escolhidos dEle.

Era uma vez, essa que vos escreve…Os que me conhece (ou os que estão me acompanhando através do Gospel Prime), já sabem que morei fora do Brasil por seis anos. Esse foi o meu período de deserto, mas estava disfarçado de terra prometida.

Todavia, eu só consegui perceber esse detalhe anos-luz, com auxílio de uma best conselheira e intercessora, que tem sido peça chave na terra para clarear esse meu processo. Um parêntese necessário: Deus sempre nos conecta a essas amigas que insistem em nos puxar para Cristo. Tudo se encaixa com uma palavra que elas lançam no cafezinho ou com uma oração ofertada a seu favor.

Naquela nossa conversa virtual não foi o contrário. O véu que me separava da compreensão direta dos desígnios do meu Pai foi rasgado e eu percebi que Genebra era sinônimo de Sinai para minha vida. Para aquele lugar, eu recebia o maná, mas era do dia. Ou seja, apesar de eu morar na terra, usufruir do melhor deles, Deus nunca permitiu que eu construísse raízes e eu deixava praticamente tudo que recebia por lá.

Enquanto minhas estacas estavam segurando as tendas, eu murmurei (sim) mas também, estudei línguas e me submeti (e passei) a um exame que concederia um diploma emitido pelo Ministério de Educação Francês, reconhecendo o meu desempenho. Fiz cursos de teologia; e cursos de auxiliar na educação infantil, vai que futuramente eu pudesse exercer uma profissão de interventora infantil na Europa?!

Batalhei pela validação do meu diploma de Direito, e consegui me tornar bacharel reconhecido pela capital suiça; laborei atividades numa creche onde me tornei “supervisora” das estagiárias em poucos dias de engajada; trabalhei com crianças em casa (fui a chamada “mamãe do dia”); labutei em casa de famílias como auxiliar de educação infantil; fui dona da minha casa e de outras também; viajei dentro e fora do continente com “1 euro”. Isso tudo no período de treinamento e no padrão “vencendo leões e ursos”. Acontece que, num dado dia, tive que partir do arraial.

Apesar de o tempo resplandecer muito ouro, foi também um pouco angustiante: a saudade, a distância, perder alguns eventos no Brasil que eu considerava importantes e ser estrangeira (e algumas vezes ser tratada como uma) foram algumas das aflições que tive que suportar. Não obstante, foi aí a oportunidade que agarrei para crescer e amadurecer enquanto filha, enquanto mulher, enquanto pessoa, enquanto cristã, enquanto brasileira (choque de cultura enorme), mesmo que o processo ainda se aperfeiçoa nas minhas fraquezas.

Durante as fases de captação do projeto de Deus, eu carregava uma sensação de ter várias personalidades – hora era muito forte e refletia frieza, hora era chorona a ponto de parecer uma criança mimada, hora não queria mais experimentar a região, e na maioria era paralisada pelo medo. Cheguei a pensar que eu poderia ser fruto do meu meio, por usar armas que não sabia manusear, mas que pesavam sobre mim (1 Samuel 17:38) só para não desagradar ninguém. Mas, na verdade, eu estava insistindo em viver propósitos que não se encaixavam com o padrão de Deus para minha vida. Eu não me conhecia direito até ser atraída para o Salmo 51 e para Isaías 59, e pasmem, sem nunca ter saído da igreja (quando vocês consultarem, entenderão).

Quando confessei a Deus quem eu era e no momento que cansei de correr, eu fiz a oração mais conflitante: Senhor, me leva para o centro da Tua vontade. E que vontade. De repente, “os nãos” se intensificaram e a Justiça Suiça se tornou “intolerante” com essa imigrante. Minha documentação não foi renovada, e meu retorno para o Brasil foi certo.

Com aversão a instabilidade da ocasião, com fobia do novo, sem um trabalho fixo neste país, “derrotada”, após ter embarcado oito malas e portar uma de mão e meu violão, eu fui recepcionada por uma cidade tão pequena no interior do Rio Grande do Norte, que pude sentir o cheiro das mãos de Deus ao entrar nela.

Na madrugada que cheguei, a frase do meu irmão “comece pelo começo” me fez dobrar o joelho no dia seguinte. A resposta veio em forma de link. O portal do exame da OAB anunciou abertura das inscrições para realização das provas – primeira e segunda fase – exatamente naquele dia que posei no Brasil (só para vocês entenderem: eu terminei a faculdade, me submeti ao exame da ordem três vezes, me frustrei quando não passei na segunda fase de um deles e “fugi” para não ser cobrada principalmente por mim).

Sem entender e temendo frustrações, eu domei o sentimento entrando na porta. Já percebia que estava vivendo o tal “centro da vontade dEle”, e por isso meu êxito foi benesse do céu. A força que recebi do Pai, a disciplina para estudar, o esforço de vencer minhas procrastinações me tornaram advogada em quatro meses. E não adianta tentar me convencer que 2020 está perdido quando ainda estamos em julho, porque em agosto do ano passado (2019) começou a quarentena de um gigante me afrontando e em dezembro, Deus já tinha me dado a cabeça deste filisteu.

Percebam, eu já tinha sido treinada, no dia que conquistei um exame na Suíça que sequer era na minha língua materna. Essa prova do “DELF” acontece no formato do exame da OAB com um agravante, ou seja, são duas etapas, sendo uma prova oral. Ainda que eu fugisse para bem longe daqui, uma hora eu cairia numa avaliação teoricamente mais difícil do que a que tanto temia.

Como tudo que Deus faz é com cuidado, existiu um tempo de preparação para meu retorno (falo tanto físico como espiritual). Deus se comunica, mas precisamos aceitar a direção, e obedecer ao final. Doravante, como encorajadora e alguém que viveu esses ditos, eu prezaria entregar algumas chaves em suas mãos para concluirmos.

O centro da vontade de Deus nunca será frustrado. Mas deverá ser escolhido. Ele trabalha em cima da sua decisão. Por essa razão, nunca poderá ser construído na dúvida, pois essa aniquila a fé e sem fé é impossível agradar ao Pai (Hebreus 11:6). Esses últimos dias, Deus se revelou durante uma conversa que tive com outra best (que deixei na Suíça) onde refletíamos exatamente sobre o fardo diante de uma situação de escolha.

Por que decidir é tão duro? Cá estamos, na oportunidade gerada pelo Criador, para re-escolhermos quem queremos ter e ser e para onde queremos ir. Chega de sermos levados ou agitados pelo vento (Tiago 1:6).

Para finalizar, talvez você se viu no espelho: aquele que sempre escolhe baseado na teimosia e nunca evolui; ou que não escolhe por medo e é paralisado; ou é aquele que tem dúvida se algo de bom ainda pode te acontecer; ou aquele que sempre espera o pior, escondido detrás do “preparado para tudo”; ou aquele que pensa “é sempre mais pesado ou mais difícil para mim”; ou aquele que começa mas não conclui nenhuma das suas atividades; ou aquele que pensa que provas, concursos e títulos não foi preparado para você viver; ou aquele comparado aos parentes e amigos sendo eles sempre os mais inteligentes. Não sei!

Mas sei que você precisa escolher desconstruir essa mentira de satanás e se respaldar na verdade do nosso Pai recebendo sua identidade oficial agora – ela é revelada em Isaías 49.

Caminhando com Ele, pude ouvi-lo dizer que todas (e são todas mesmo) as coisas nos são lícitas através da fé e podem fazer parte dos nossos contos desde que seja “centro de Sua vontade”. Para você constatar, na prática, esse lugar em Deus, descubra primeiro onde você está: se é no deserto do Sinai disfarçado de Canãa ou é no vale do Elá. Gere a oportunidade de realizar o propósito na plenitude. Não insista em regar plantas onde não é para brotar raiz, deixe o Espírito Santo te guiar obedecendo os “nãos” que Ele te der, e você verá que até na frustração algo de bom é gerado.

Somente depois que tudo passa, fica nítida a lição: a todo instante, Deus estava gerando o momento exato para eu enfrentar um gigante no vale do Elá. Só existiu Golias até Davi aparecer.

Bastava eu usar, naquela ocasião, apenas as armas que eu sabia manusear – ler e escrever (1 Samuel 17:45) e de quebra, isso serviu para eu finalizar o inacabado e destronar (de uma vez por todas) essa potestade na minha história. Os gigantes são outros, mas eu me mantenho no vale do Elá, porque eu sei que é esse o lugar onde “Saul matou milhares, mas Davi matou dezena de milhares” (1 Samuel 18:7).

Larissa Fabiana do Amaral Pereira é advogada, membro da igreja Bola de Neve em Mossoró (RN). Uma das idealizadoras do ministério Preciosas e ex-aluna do Instituo Teológico Detrás das letras, na Suíça.

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