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devocional

Cântico de júbilo

O cântico de Ana, a que chamo Cântico de júbilo, está registado em I Samuel.

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Mulher adorando (Diana Simumpande/Unsplash)

Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões

Ana era estéril e o marido, Elcana, tinha outra esposa, Penina, que tinha filhos e infernizava Ana que, por sua vez, sofria imenso com o desprezo e a provocação de Penina. Um dia Ana fez um voto a Deus: que se lhe desse um filho varão, o dedicaria inteiramente ao serviço do Senhor.

Enquanto Ana fazia o voto a Deus no templo, os lábios moviam-se mas não saía som da sua boca, pelo que o sacerdote Eli a julgou embriagada e confrontou-a.

Depois de esclarecido, Eli declarou: “Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste” (1 Samuel 1:17). Passado pouco tempo ela concebeu, vindo a ser mãe do profeta Samuel.
O cântico de Ana, a que chamo Cântico de júbilo, está registado em I Samuel 2:1-10. Vejamos alguns aspectos interessantes deste episódio:

Nem sempre Deus responde de pronto aos anseios do nosso coração

Aconteceu com Ana. Ela era humilhada por Penina ano após ano, quando a família subia ao templo para apresentar sacrifícios.

“(…) o Senhor lhe tinha cerrado a madre” (1 Samuel 1:6b). Como qualquer mulher no Israel daquele tempo, ser estéril era considerado um opróbrio, isto é, uma desonra.

Pode acontecer que sejamos até magoados e injustiçados

Era o que sucedia com Ana. “E a sua rival excessivamente a provocava, para a irritar; porque o Senhor lhe tinha cerrado a madre. E assim fazia ele de ano em ano. Sempre que Ana subia à casa do Senhor, a outra a irritava; por isso chorava, e não comia” (1 Samuel 1:6,7). A mágoa provocada e a injustiça podem até potenciar quadros depressivos em pessoas de fé por que somos seres humanos e ninguém está imune a isso. Ana deixou de se alimentar e chorava, dois sintomas de depressão muito comuns.

O apóstolo dos gentios fala eloquentemente da sua experiência ao serviço do evangelho: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos. Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos. E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal” (2 Coríntios 4:8-11).

Quando oramos a Deus pode até parecer que estamos embriagados

“E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca. Porquanto Ana no seu coração falava; só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada. E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. Porém Ana respondeu: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o SENHOR” (1:12-15).

Aconteceu o mesmo no dia de Pentecostes, aquando do derramamento do Espírito Santo, quando a multidão dos forasteiros que tinham ido assistir às festas da Páscoa judaica no templo de Jerusalém, foram atraídos pelo fenómeno das línguas de fogo no cenáculo, onde aqueles cento e vinte discípulos estavam reunidos.

A oração (por fim) respondida

Deus quer conceder-nos o desejo do nosso coração: “NÃO te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniqüidade. Porque cedo serão ceifados como a erva, e murcharão como a verdura. Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia. Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos. Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados; mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra” (Salmos 37:1-9).

E o que nos diz este Cântico de júbilo?

Que os justos e alegram no Senhor (I Samuel 2:1); que Deus é Único, Santo e digno de confiança (1); que não devemos ser arrogantes (3a); que Deus é Justo e pratica a Justiça e a Equidade (4-9); que é o Senhor da Vida (6); que cuida dos que são seus (9).

A grande questão que se coloca hoje é que muitos crentes permanecem espiritualmente estéreis

Não conseguem gerar filhos espirituais. Preferem esconder a sua fé, ou dizer mal de outras confissões religiosas do que dar testemunho da fé e da misericórdia de Deus na sua vida. Porém, se orarem a Deus com a mesma paixão de Ana, Ele responderá ao anseio do seu coração.

O cântico de júbilo é um cântico que confia em Deus. Depois da palavra de Eli, Ana voltou a alimentar-se e o seu semblante “já não era triste” (v18). Agora era só esperar no Senhor… e o milagre aconteceu pouco depois.

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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