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estudos bíblicos

Belém: A cidade natal do Messias

E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Miquéias 5:2

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José e Maria. (Foto: Record TV)

O profeta Miquéias, cujo nome significa “quem é como, ou semelhante o SENHOR?”, faz um trocadilho com seu próprio nome quando, no final de seu livro, pergunta: “Quem é Deus semelhante a ti?” (Mq.7:18), sua pergunta retórica parece-nos, justamente, encontrar resposta em sua profecia messiânica do capítulo 5.

A visão do profeta Miquéias sobre Israel e Judá é o tripé característico do ministério profético: apontar o pecado da nação, apresentar o juízo divino e revelar a salvação por meio de arrependimento e restauração do povo da aliança. E por fim a profecia se estende à consumação de todas as coisas, o cumprimento de todas as bênçãos prometidas, que Miquéias viu realizadas através da chegada do Messias – “o que governará em Israel”.

Contexto histórico

Miquéias desenvolveu seu ministério profético no Reino do Sul, conhecido também como reino de Judá, durante o reinado de Jotão, Acaz e Ezequias, e foi contemporâneo dos profetas Isaías e Oséias, no século VIII a.C. (Mq.1:1). Também profetizou contra o reino do Norte, Israel, apontando juízo divino sobre os pecados da nação (Mq.1:1,5-7).

Judá foi ameaçada por uma aliança entre Israel e Damasco (Síria), durante o reinado de Acaz, que solicitou ajuda da Assíria, a grande potência mundial da época. Com a ajuda da Assíria, o reinado de Ezequias tornou-se tributário dos assírios até que resistiu ao cerco de Senaqueribe e voltou a ser livre de tributos do rei da Assíria (2R.18-19).

Contexto espiritual

A situação moral em Judá estava muita baixa. Na visão da época, o formalismo e o cerimonialismo tinham mais importância para adquirir o favor divino do que um caráter dominado pelo ensino da Torá para produzir vida digna da lei de Deus. Havia idolatria: “E todas as suas imagens de escultura serão despedaçadas, e todas as suas ofertas serão queimadas pelo fogo, e de todos os seus ídolos eu farei uma assolação; porque pela paga de prostituta os ajuntou, e para a paga de prostituta voltarão” (Mq.1:7); e realizava-se a prática diabólica de sacrifício humano (2 Reis 16:1-4). Os profetas e sacerdotes eram subornados e os órfãos e as viúvas oprimidos (Mq.3:5-7, 11).

O profeta Miquéias foi levantado por Deus para denunciar e corrigir essa situação calamitosa. Miquéias exortava ao arrependimento e apontava para o Messias e seu Reino como solução final (Mq.5:2-5b).

O Messias nasceria em Belém

O profeta Miquéias, por exemplo, aponta em sua profecia que o Rei-Messias nasceria na cidade de Belém, por ser a cidade de origem do rei Davi, e que, apesar do juízo divino a que o profeta se referiu, haveria restauração por meio de seu governante real: “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq.5:2).

O nome Belém (hb. Beit Lehem) significa “casa do pão”, porque a região era conhecida pela produção de cereais no período do A.T.. A localidade, além de possuir vales férteis, era conhecida por suas formosas colinas. Belém está situada a cerca de 8km ao sul de Jerusalém, no distrito conhecido como Efrata, em Judá. A menção do nome Efrata (“fértil”) servia para diferenciá-la de uma outra cidade homônima na Galiléia, na terra de Zebulom (Js.19:15). Em Belém nasceu Benjamin e foi enterrada a matriarca Raquel, esposa de Jacó (Gn.35:16-19; 48:7). Foi a terra natal de Noemi e sua família, cidade onde Rute, a moabita, casou-se com Boaz e gerou Obede, avô de Davi, que foi ungido rei de Israel nesta mesma cidade (1Sm16:1,13). Tanto Davi como seu eminente filho, o Messias, nasceram em Belém (1 Samuel 16:1; Mateus 2:1).

A sentença “de ti me sairá o que governará em Israel” (Mq.5:2) indica, claramente, que não se trata de um governante comum de Israel que nasceria em Belém, mas o Rei que governará com autoridade e exercerá domínio sobre todo o Israel. O texto paralelo ao de Miquéias 5:2 é Isaías 9:6, que afirma: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado estará sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”.

O Messias seria eterno?

O Rei-Messias, apresentado na revelação do profeta Miquéias, tem o seu grande destaque nas duas últimas frases de Miquéias 5:2: “cujas saídas são desde os tempos antigos” e “desde os dias da eternidade”. Na primeira frase temos o termo miqqedem, “tempos antigos”, na segunda temos o termo mime olam, “dias da eternidade”. Para Groningen, “o primeiro termo basicamente significa “do oriente”, “do leste” (…). Miquéias usa o termo para referir-se a um tempo no passado distante. A frase paralela dá uma dimensão mais ampla: dias de há muito, muito tempo, isto é, de um tempo antes que o tempo começasse” (GRONING, 2003. p.483). O profeta apresenta a encarnação do Rei Eterno, que se manifestava em aparições antes de encarnar, conhecida na Sagradas Escrituras como o “Anjo do Senhor”. Seu reino não começa com seu nascimento em Belém, ele já era reinante, por ser eterno.

O contexto imediato dessa singular profecia messiânica (Mq.5:2) fala da dura experiência em que Judá verá suas tropas em um cerco, no qual o rei no poder será humilhado (Mq.5:1). Isto foi cumprido em parte pelo cerco de Senaqueribe, em 701 a.C., contudo, a queda de Judá só veio com a tomada de Jerusalém por Nabucodonosor em 586 a.C., e em face de todos os cercos subsequentes, até a destruição de Jerusalém em 70 d.C..

Contudo, a mensagem do profeta traz uma palavra de esperança por meio do futuro e poderoso líder que nascerá em Belém e restaurará o remanescente de Jacó, líder que, antes de reinar gloriosamente e de retornar para sua prometida terra, passará por dores e aflições (Mq.5:3-15).

Miquéias se antecipa dizendo que o Rei-Messias apascentará seu povo na força do Senhor (Mq.5:4), o que nos leva a compará-lo com o bom pastor, apresentado em João 10. Este bom pastor também será “nossa paz” (Mq.5:5), o que nos é revelado claramente em Hebreus 13:20: “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus, grande pastor das ovelhas”.

Por fim, além de anunciar uma contundente vitória contra a Assíria, que era o inimigo mais temido no tempo de Miquéias, o profeta aponta para a vitória daquele que virá se impor sobre os poderes mundiais.

A expressão: “e a terra de Ninrode nas suas entradas” aponta para o conhecido nome de Ninrode (hb. “rebelde”), grande guerreiro da antiguidade bíblica, que foi chamado de “poderoso caçador diante do Senhor” (Gn.10:9), líder que edificou Babel, que mais tarde seria conhecida como Babilônia (Gn.10:10), nação que se tornaria grande inimiga de Israel.

Miquéias retrata a Babilônia e a Assíria como um único inimigo de Israel, a serem liderados por “Ninrode”. Este futuro inimigo escatológico de Israel nos foi apresentado através do profeta Daniel (ver Dn.11:36-45), mas no fim dos tempos será derrotado: “mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (Dn.11:45b). O equivalente no Novo Testamento é o Anticristo, que será derrotado pelo Messias naquilo que conhecemos como a Batalha do Armagedom (Ap.19:14-21).

Antes que o Rei-Messias profetizado por Miquéias venha a reinar, os filhos de Israel serão espalhados sobre a nações: “no meio de muitos povos, como orvalho” (Mq.5:7). A expressão “naquele dia” (Mq.5:10) refere-se ao reino futuro em que todas as promessas proferidas por Miquéias se cumprirão, em face da confiança dos filhos de Israel tão somente em Deus e no Rei-Messias, “cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq.5:2).

Cumprimento da profecia

Essa profecia do nascimento do Rei-Messias na cidade de Belém é confirmada e cumprida nos evangelhos através do nascimento de Jesus em Belém: “E, TENDO nascido Jesus em Belém de Judéia (…) E o rei Herodes, ouvindo isto, e toda Jerusalém com ele. (…) perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram: Em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta” (Mt.2:1-5). Como se vê, entre os eruditos judeus dos dias de Jesus não havia dúvida quanto ao lugar onde deveria nascer o Messias.

Também encontramos fontes rabínicas, como o Midrash* Rabbah de Lamentações, seção 51 (em Lamentações 1:16 – que fala sobre a destruição do templo judaico), que identificam o nascimento do Messias com a cidade de Beit Lehem (Belém). A mesma aggadah (história) aparece no Talmud de Jerusalém em B’rakhot 5a, cuja última linha é: “Na capital real de Beit Lechem”. Além disso, embora tais passagens não identifique o Messias como Yeshua [Jesus], implica que o Messias já teria vindo, por volta da época da destruição do Templo (STERN, 2008, p.36).

Seria coincidência que o Senhor Jesus que é o pão da vida (Jo.6:35), veio ao mundo nascendo em uma cidade cujo nome quer dizer “casa do pão”?

[*Midrash: comentários rabínicos de versículos, capítulos, ou até mesmo de livros inteiros do A.T.]

Pastor Batista, Diretor dos Amigos de Sião, Mestre em Letras - Estudos Judaicos (USP).

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