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devocional

Antes de tudo, o altar

Quem precisa de restaurar a presença de Deus em si, tem de começar pelo altar, pois Deus não pode habitar num templo destruído.

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Oração e Bíblia. (Photo by Patrick Fore on Unsplash)

O livro histórico e bíblico de Esdras conta-nos sobre o que aconteceu aquando do regresso dos cativos da Pérsia a Jerusalém, por iniciativa de Ciro: “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela boca de Jeremias), despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há entre vós, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém, que está em Judá, e edifique a casa do Senhor Deus de Israel (ele é o Deus) que está em Jerusalém” (1:1-3).

Depois de mais de 60 anos de cativeiro nas margens do Eufrates, Deus despertou o coração do regente da Babilónia, o rei Ciro, da Pérsia (actual Irão), para publicar um édito que permitia aos judeus retornar para Jerusalém, a fim de reconstruir o templo e a cidade.

O povo judeu exilado foi não só autorizado mas estimulado a regressar a Jerusalém, a fim de “edificar a casa do Senhor” (1:5).

Um grupo de fiéis respondeu e partiu em 538 a.C. sob a liderança de Zorobabel. A construção do templo foi então iniciada, mas a oposição dos samaritanos desencorajou o povo, e a obra foi interrompida durante 16 anos.

A verdade é que se prestarmos atenção ao processo de reconstrução do templo encontraremos inúmeros ensinamentos espirituais.

A primeira de todas as tarefas dos regressados foi reconstruir o altar do Templo de Jerusalém e retomar os sacrifícios de acordo com a lei de Moisés (3:1-6).

De facto não nos “construímos” para Deus sem começar pela reconstrução do altar da nossa vida, isto é, por uma dinâmica de fé e devoção, de forma a nos podermos apresentar a nós mesmos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).

Ou como um sacrifício de louvor: “Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13:15). Isso requer uma atitude de obediência para com Deus de acordo com a revelação que possuímos.

Depois do altar em pleno funcionamento os regressados do cativeiro iniciaram a reconstrução dos alicerces da casa do Senhor (3:8-13). Tal actividade provocou diferentes tipos de emoções.

Sempre que o nosso altar é restaurado e o templo espiritual reconstruído haverá choro de arrependimento e choro de alegria: “Porém muitos dos sacerdotes, e levitas e chefes dos pais, já idosos, que viram a primeira casa, choraram em altas vozes quando à sua vista foram lançados os fundamentos desta casa; mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria. De maneira que não discernia o povo as vozes do júbilo de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão altas vozes, que o som se ouvia de muito longe” (3:12,13).

Os anciãos tinham mais presente a ideia da destruição do primeiro templo (de Salomão) e emocionaram-se por ver a casa do Senhor ser agora reconstruída, após um doloroso exílio, quando o povo judeu nem sequer conseguia encontrar ânimo para cantar as músicas da sua terra, a pedido dos babilónios: “Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” (Salmo 137:4).

Sobretudo fez-se presente um notório sentimento de gratidão a Deus: “Todo o povo jubilou com altas vozes, quando louvaram ao Senhor, pela fundação da casa do Senhor” (3:11). De facto, não há alicerces sólidos sem arrependimento (choro) e louvor (alegria e gratidão).

Quando se está num mundo longe de Deus (exílio) e se regressa à casa do Pai (Jerusalém) tem que haver gratidão. Os levitas, os cantores e os porteiros também tinham vindo do exílio (2:40,41,65).

Os inimigos desencorajaram o processo de reconstrução do templo (4:1-5). Não nos “construímos” para Deus sem oposição. Note-se que os opositores também eram israelitas, o que comprova que o nosso maior adversário somos nós mesmos…

O templo onde Deus habita hoje não é de pedra, mas humano. Todos estamos a construir (ou a reconstruir) o nosso templo. Comecemos pelo altar e os sacrifícios, lancemos os alicerces do arrependimento e do louvor, e enfrentemos os nossos inimigos sem descurar a obra que temos entre mãos.

Quem precisa de restaurar a presença de Deus em si, tem de começar pelo altar, pois Deus não pode habitar num templo destruído.

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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