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Ainda não é o fim!

O que nos deve preocupar não é o fim do mundo, mas sim estarmos em comunhão com Cristo, nos braços do Pai

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Placas explicam cuidados com o coronavírus na China (kian zhang / Unsplash)

A doutrina da últimas coisas para mim tem um interesse relativo. Tudo o que precisamos saber é como estar nos braços de Jesus. E aí, aconteça o que acontecer, estamos bem.

Muitos crentes estão sempre a dizer que estamos nos últimos dias. Há sessenta anos que ouço tal discurso. Quando acontece alguma desgraça dizem logo que são os sinais dos tempos. Disseram o mesmo sobre a covid-19. Mas sempre aconteceram desastres naturais, guerras e perseguições. A diferença é que hoje sabe-se na hora…

Os textos de Marcos 13:1-13 e Mateus 24 dão-nos alguma luz sobre a matéria.

Quando é que Jesus falou do fim?

Apenas em resposta ao orgulho religioso representado pela solidez do Templo de Jerusalém:

“E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras, e que edifícios! E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada” (v1-2).

A resposta foi interpretada como sendo o anúncio do fim do mundo. Não era, mas só o compreenderam cerca de quarenta anos mais tarde.

Não lhes passava pela cabeça que o Templo fosse destruído a não ser num cataclismo do fim do mundo.

Quem insistiu nas perguntas sobre a destruição do Templo?

Alguns discípulos em privado:

E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir” (3-4); “que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24:3c).

Foram os discípulos e não Jesus que introduziram o tema do fim do mundo, certamente como resultado dos medos ancestrais e do imaginário colectivo, já que todos os povos e culturas imaginam o fim do mundo.

Mas o mestre tinha assuntos mais importantes para partilhar com eles.

Quais foram os alertas de Jesus?

Não se deixem enganar: “E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane” (5). Porquê? “Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos” (6); “E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos” (Mateus 24:11).

Não se assustem com as guerras: “E, quando ouvirdes de guerras e de rumores de guerras, não vos perturbeis; porque assim deve acontecer; mas ainda não será o fim. Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino (…)” (7-8a).

Não se assustem com os desastres naturais: “(…) e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes e tribulações. Estas coisas são os princípios das dores” (8b).

Olhem por vocês mesmos: “Mas olhai por vós mesmos (…)” (9a).

Ou seja: não se deixem enganar, não se assustem com a adversidade e cuidem da vossa vida.

Em resposta ao orgulho religioso – representado pela solidez das pedras do Templo – Jesus respondeu que ele seria destruído um dia. Tudo isto se cumpriu cerca de quarenta anos depois, aquando da destruição do Templo:

“Na verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas aconteçam”.

Em resposta a uma sedição as tropas romanas comandadas pelo general Tito tomaram a cidade de Jerusalém no dia 8 de setembro do ano 70 da nossa era.

Apesar de lhes estar interdito entraram na cidade, incendiaram o Templo e levaram os habitantes como escravos.

O Templo representava uma religião institucionalizada e o Mestre Jesus chamou a atenção para o mais importante: a relação pessoal com Deus, a firmeza da fé e a vigilância, mas sem medo dos acontecimentos.

O que deve preocupar quem anda na pesca, no mar alto, não é se vem aí uma tempestade, mas se temos o colete de salvação vestido.

O que nos deve preocupar não é o fim do mundo, mas sim estarmos em comunhão com Cristo, nos braços do Pai. É que se estivermos aí, estamos bem protegidos.

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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