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Adão, o primeiro homem

A doutrina bíblica do homem

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Saudações de paz, caro estudante da Palavra de Deus! Com a bendita graça do Senhor vamos iniciando mais um ano letivo da Escola Dominical, e aproveito para desejar-lhe um feliz ano novo, cheio de sabedoria e de paz.

O assunto deste nosso primeiro trimestre está palpitante. Com comentários do pastor Claudionor de Andrade, a revista de adultos da editora CPAD discorrerá sobre antropologia bíblica. Como já é de costume (há mais de dois anos), oferecemos aqui nosso estudo complementar para um maior aprofundamento dos temas estudados semanalmente. Com a Bíblia em mãos, sempre examinando para ver se as coisas são realmente como escrevemos (At 17.11), iniciemos nosso estudo.

I. A doutrina bíblica do homem

1. Definição

De longas datas os seres humanos procuram respostas para estas perguntas: quem sou? De onde vim? Que faço aqui? E para onde vou? Infelizmente, visto que buscam respostas à parte de Deus e de sua Palavra, mesmo os grandes filósofos continuam sem saber o real “sentido da vida”.

As Escrituras, no entanto, já ofereceram há muitos séculos respostas para todas estas perguntas. E quem por ela se deixa ser ensinado torna-se mais sábio que os mestres deste mundo (Sl 119.98,99).

Ao longo deste trimestre estaremos estudando o que dentro da Teologia Sistemática é chamado de antropologia, isto é, o estudo acerca do homem. Antropologia é um termo que se deriva de dois vocábulos gregos: antrophos (homem) e logia (de logos, estudo ou tratado). Mas por que estudar esta doutrina, que apesar de ter o homem como objeto de estudo, não o centraliza nem o exalta como a Deus? (isso seria antropocentrismo e não antropologia!).

O professor Eurico Bergstén responde sobre o porquê de estudar acerca do homem: “Toda religião gira em torno de dois polos: Deus e o homem e suas relações mútuas. Por isso é importante conhecer o que a Bíblia ensina sobre Deus e sobre o homem”[1]. Dada a relação que há entre Deus e o homem, sendo este dependente daquele, quanto mais estudarmos sobre Deus, mais conheceremos sobre o homem; e quanto mais estudarmos sobre o homem, pautando nossa investigação na inerrante Palavra de Deus, mais conheceremos sobre Deus, o Criador, Dominador e Salvador do homem.

2. Fundamentos

Ainda que possamos encontrar algum suporte nas teorias desenvolvidas pelos filósofos, antropólogos, sociólogos, cientistas e demais acadêmicos, nosso estudo sobre antropologia tomará como fonte de informação e verdade a Bíblia sagrada, que é a “palavra da verdade” (2Tm 2.15). Isto é, o que a Bíblia diz acerca do homem? Investigaremos o livro sagrado para dele extrair as respostas que precisamos.

Há muita coisa sendo fabricada no mundo, com cara de ciência, mas que não passa de invencionice humana. O apóstolo Paulo já advertia: “Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência” (1Tm 6.20).

Também das lendas, mitos e fábulas tomaremos distância (1Tm 4.; Tt 1.14), e tomaremos conselho com a Palavra de Deus, que é a doutrina infalível para a Igreja do Senhor! Há igualmente muita mensagem de autoajuda exaltando o ego humano, sendo pregada nos púlpitos de muitas igrejas evangélicas pelo país – é a velha teologia da prosperidade e da confissão positiva travestida de uma roupagem gourmet, mas que continua centralizando a figura humana e ignorando a pessoa de Cristo e a glória de Deus. Estamos falando da teologia coach, com seus pregadores que vão se popularizando cada vez mais com suas mensagens adocicadas e perfumadas, nada lembrando o cerne da mensagem de Cristo e de seus apóstolos, que era: “arrependei-vos!” (Mt 4.17; At 3.19). Realmente carecemos voltar ao estudo da antropologia bíblica e perceber quem realmente é o homem!

No estudo desta matéria, não nos furtaremos de investigar o que abalizados, conservadores e sérios teólogos escreveram acerca dessa matéria, tomando seus comentários e explicações como um suporte para nossos estudos semanais, sempre, claro, submetendo cada declaração ao crivo da Palavra de Deus.

Nossa Declaração de Fé, por exemplo, é um documento que, ainda que não inerrante nem inspirado por Deus, pretende sintetizar de modo sistemático e pedagógico as principais doutrinas bíblicas e crenças do Cristianismo ortodoxo. No capítulo Sobre o homem, a Declaração afirma:

Cremos, professamos e ensinamos que o homem é uma criação de Deus (…). A palavra “homem” no relato da criação em Gênesis 1 e 2 é adam, que aparece depois como nome próprio do primeiro homem. O ser humano foi criado macho e fêmea (…). Trata-se de um ser inteligente e que foi capaz de dar nome aos animais; feito à semelhança de Deus (…); um pouco menor que os anjos; coroado de honra e de glória e dotado por Deus de livre-arbítrio, ou seja, com liberdade de escolher entre o bem e o mal… [2]

Professamos estas verdades por julgar que elas estão em total concordância com a revelação canônica.

3. Objetivos

O grande objetivo do estudo da antropologia bíblica é responder a pergunta “Que é o homem?“. Mesmo piedosos servos de Deus da antiguidade já faziam este questionamento, mas corretamente buscavam em Deus a resposta adequada, ao invés de se entregarem aos devaneios da mente (Jó 7.17; Sl 8.4; 144.3).

O comentarista da Lição, Claudionor de Andrade, lista quatro razões específicas por que devemos estudar a antropologia bíblica. Parafraseando, apresento os objetivos elencados pelo comentarista: 1) Oferecer respostas às inquietações humanas, quanto à origem, características e propósito da vida; 2) Reafirmar a relação de dependência da criatura para com o seu Criador, e o governo soberano deste sobre o homem; 3) Conhecer a corrupção do ser humano e sua necessidade de redenção por meio do Salvador, “Jesus Cristo, homem” (1Tm 2.5); e finalmente 4)  Buscar consolo e esperança quanto ao futuro da humanidade, que, sem Cristo, precipita-se para uma grande tragédia.

Desse modo, serão abordados três grandes temas da teologia cristã ao longo deste trimestre: Criação, Queda e Redenção. Graças a Deus não estamos entregues ao acaso! Deus tem “pensamentos de paz, e não de mal” ao nosso respeito (Jr 29.11).

II. A criação dos céus e da terra

1. A criação dos céus e dos anjos

É sabido pelos relatos dos dois primeiros capítulos do Gênesis que a criação do nosso mundo, incluindo o homem, demorou seis dias. O sétimo dia foi o dia do descanso, quando não houve nenhum ato criativo da parte de Deus, senão um regozijo na obra criada.

A criação do céu e dos anjos evidentemente remonta a um tempo muito anterior que o da criação do nosso cosmos, visto que quando a terra era fundada, os anjos (“filhos de Deus”) já lhe prestavam louvores nas alturas de glória (Jó 38.4,7).

Em que momento os céus (onde Deus habita) e os anjos foram criados e como foram criados não o sabemos, mas sabemos que eles existem, antecedem aos homens na ordem da criação e que pelo mesmo Deus que nos fez todas.

2. Deus a tudo criou com inigualável sabedoria

Amor, poder e sabedoria de Deus são atributos diretamente envolvidos na criação. Teólogos há muitos séculos já inquiriram: por que Deus preferiu criar o homem, inclusive já sabendo previamente de sua queda, ao invés de não criar? Outra resposta mais plausível que esta não há: porque Deus é amor e queria criar criaturas autoconscientes, racionais e semelhantes a ele (no aspecto moral e espiritual) para estabelecer com elas uma relação recíproca de amor.

Pelo seu poder criativo, tudo o que existe veio a existir, que por meio de sua palavra eficaz, quer por meio de seu toque e de seu sopro de vida. E que maravilhoso poder! Que outra coisa senão o amor de Deus poderia trazer à existência todas as coisas que vemos? Que outra coisa senão o poder divino poderia criar o ser humano a partir do pó da terra e fazê-lo alma vivente? Que outra coisa senão o poder de Deus poderia estabelecer leis da física, da matemática e da química, garantindo a perpetuidade do universo e da vida, tanto humana como animal e vegetal?

E quanto a sabedoria divina, vemos sua presença no ajuste fino da criação, na beleza da natureza em nossa volta, no colorido das flores, e no agradável polifônico canto dos animais. Sim a sabedoria de Deus está manifesta nos astros celestes, nos mares profundos, e em nós, seres humanos (estude a sofisticação do corpo humano, a engenharia genética contida numa única célula ou a simples constituição do globo ocular e verá como é extasiante esta sabedoria de Deus)! Podemos dizer a Deus como disse Davi: “maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.14).

III. A criação de Adão, o primeiro ser humano

1. O concílio da Divindade sobre a criação do homem

Cremos na existência de um único Deus, mas que subsiste eternamente em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Este é o grande e indecifrável mistério da Trindade, diante do qual nos encurvamos e reverenciamos!

Ao declarar “façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26), ali estava a santa Trindade, isto é, o Deus triúno deliberando executar o maravilhoso plano da criação do homem. O teólogo pentecostal Raimundo de Oliveira é sucinto, mas objetivo quanto a interpretação histórica desse versículo. Sua conclusão é nossa conclusão:

A Igreja geralmente tem interpretado o verbo “façamos”, no plural, para provar a autenticidade da doutrina da Trindade. Alguns eruditos, porém, são da opinião que esta palavra expressa o plural de majestade; outros a tomam como plural de comunicação, no qual Deus inclui os anjos em diálogo com Ele; todavia, outros a consideram como plural de auto-exortação. Tem-se verificado, porém, que estas três últimas afirmações são contrárias àquilo que pensam e interpretam os pensadores e teólogos mais conservadores, os quais, como a Igreja, creem que o plural “façamos” é uma alusão direta à Trindade divina entrando em conselho para a formação do homem. [3]

2. Deus cria Adão, o primeiro ser humano

Não bastasse a teoria evolucionista, há também teóricos ultrajados de teólogos especulando sobre a existência de outros seres humanos antes de Adão e Eva. Entretanto, se tomamos a Palavra de Deus como genuína fonte da verdade (Jo 17.17; 2Tm 2.15) e se recebermos os relatos do Gênesis como literais, assim como Jesus e os apóstolos o receberam (Mt 19.4; 1Co 15.45), então recusaremos estas teorias nefastas quanto à existência de outros humanos antes de Adão.

O apóstolo Paulo é claro: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva” (1Tm 2.13). E o texto do Gênesis afirma que antes da criação de Adão “não havia homem para lavrar a terra” (Gn 2.5). Todas as genealogias bíblicas recuam até, no máximo, o homem Adão (conf. a genealogia de Jesus: Lucas 3.23-38).

3. O homem torna-se alma vivente

O homem não é uma ameba super evoluída, nem é um primo distante dos macacos. Como bem disse Raimundo de Oliveira, “o homem é muito mais que um amontoado de agentes químicos. Ele é muito mais que carne e osso. O homem é um ser espiritual, pois Deus o fez alma vivente”.[4]

Após criar o homem a partir do pó da terra, modelando com suas próprias mãos o corpo de Adão e dando-lhe a forma que bem planejou, o Senhor “soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7). Ainda que a expressão “alma vivente” não seja direcionada exclusivamente ao homem, pois os animais também são assim denominados na criação (Gn 1.20,21,24,30; 2.19, etc.), é claro que o homem é uma alma vivente bastante distinta dos animais.

Sobre esta questão, Elinaldo Renovato, em Lição já estudada no 3° trimestre de 2019, é elucidativo:

Tanto nephesh [alma, em hebraico] como psique [alma, em grego] indicam o princípio vital da vida humana, física ou animal. Quando Deus disse que o homem fora feito “alma vivente”, nephesh chayyah, no hebraico, e quando Ele disse que a terra produzisse “alma vivente” em relação aos animais, o termo “alma vivente” também foi nephesh chayyah. No entanto, (…) o homem é distinto do animal por várias razões, entre as quais estão o autoconhecimento e a autodeterminação. (…) Em sentido teológico, a alma é a sede das emoções e dos sentimentos.[5]

A Declaração de Fé das Assembleias de Deus ainda acrescenta: “(…) a alma humana foi animada pelo espírito que veio diretamente de Deus [ressalte-se que animais não têm espírito!] na criação de Adão. A alma dos animais irracionais é extinta na morte deles, mas não é isso que acontece com os seres humanos”.[6]

IV. A missão e a tarefa do homem

1. Glorificar a Deus

Qual o grande sentido da vida? Não é o trabalho, não é o prazer, não é acumular riquezas, nem mesmo a própria felicidade. Tudo isso à parte de Deus é mera “vaidade”, como insistentemente declara Salomão no livro de Eclesiastes. Como disse Jesus, de que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma (Mt 16.26); e de que adianta comer, beber, se divertir e ter muitos amores nesta vida, mas no final ser surpreendido pelo Senhor com terrível destruição como foi a geração ímpia dos dias de Noé?

Adorar a Deus – esta é a nossa verdadeira razão de viver! O Pai procura santos adoradores (Jo 4.23,24), pois para isso fomos criados, para viver para ele, oferecer-lhe nosso tempo, dons e recursos, a fim de que Deus seja exaltado em tudo e em todos. Nas palavras do próprio Deus: “…os que criei para a minha glória: eu os formei, e também eu os fiz” (Is 43.7). Fomos criados pelo Senhor e para o Senhor: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36).

Os últimos versículos de Eclesiastes oferecem para nós a finalidade da vida humana nestes termos: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec 12.13,14).

Como cantamos,

Criou o céu, criou a terra
Criou o sol e as estrelas,
Tudo Ele fez, tudo criou, tudo formou
Para o seu louvor…

2. Propagar a espécie

Esta segunda missão do ser humano está ordenada ainda no primeiro capítulo bíblico, quando ali se registra a ordem de Deus para o homem: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra…” (Gn 1.28).

Desse modo, estava legitimada por Deus a união entre o homem e a mulher, para constituição do casamento e propagação da espécie humana. O sexo legitimamente desfrutado entre os cônjuges também está indiretamente confirmado e abençoado por Deus (Hb 13.4).

Ainda que não estejamos inseridos numa cultura oriental dos tempos bíblicos (nas quais a multidão dos filhos era desejada pelos pais) e mesmo reconhecendo os desafios na criação dos filhos neste mundo pós-moderno, ainda devemos enxergar a procriação como uma dádiva de Deus para o casal, ao invés de encararmos filhos como “prejuízo” ou empecilhos para nosso progresso pessoal. Isso seria individualismo, egoísmo e autolatria de nossa parte! Filhos são herança do Senhor (Sl 127.3).

3. Governar e administrar o planeta

O governo do homem sobre a terra também está ordenado desde a criação, quando o Criador ordenou: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” (Gn 1.28).

Já estudamos esse assunto da mordomia da terra no terceiro trimestre de 2019, e volto aqui a dizer o que dizemos naquela ocasião:

No cuidado com a terra, há dois erros a se evitar: tratar a natureza como se ela fosse Deus (isso seria cair na heresia panteísta), ou, ao contrário, trata-la como se nós fôssemos Deus acima dela (isso seria demasiadamente arrogante de nossa parte). A natureza não é nossa senhora, nem também somos o senhor dela. Ela é um presente de Deus para nosso desfruto legítimo, mas com zelo, pois a posse dela continua pertencendo ao Criador.

Não devemos venerar a tal “mãe natureza”, até porque ela não é mãe de nada e de ninguém, já que tudo o que nela há é feitura do Deus todo poderoso (não cremos em “geração espontânea da vida”, nem em “evolução das espécies”, mas em criação e providência divina!). Por outro lado, não podemos também reivindicar direito absoluto sobre a criação, para usá-la como bem entendermos e exaurirmos seus recursos. Como disse John Stott, o domínio que Deus nos deu sobre a natureza deve ser visto como uma mordomia responsável, não como um domínio destrutivo.

Conclusão

A criação do homem demonstra como Deus é amoroso, poderoso e infinitamente sábio. O homem não deve se orgulhar de ser distinto dos demais seres criados, mas pode alegrar-se de ter sido feito à imagem e conforme a semelhança de Deus; sua alegria, entretanto, deve redundar em retribuição de amor, já que para isso foi criado, para relacionar-se amorosamente com o Criador, de quem depende nosso fôlego de vida.

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Referências

[1] Eurico Bergstén. Teologia Sistemática, CPAD, p. 125

[2] Esequias Soares (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, p. 77

[3] Raimundo de Oliveira. As grandes doutrinas da Bíblia, CPAD, p. 152

[4] Ibid., p.  158.

[5] Elinaldo Renovato. Tempo, bens e talentos: sendo mordomo fiel e prudentes com as coisas que Deus nos tem dado, CPAD, p. 37

[6] Ibid., p. 80

Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros.

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