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opinião

Acabou?

Os povos se apagaram, mas não sejamos afoitos em cantar vitória: o ventre que o gerou ainda é fecundo.

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Sem dúvida o julgamento do STF sobre o habeas corpus do ex-presidente deve ser descrito como um momento símbolo da história brasileira. Símbolos são poderosos. Eles sintetizam em estreitos limites, os acontecimentos, as lutas e realizações de um povo, de uma era, de uma história.

A simples queda da Bastilha provocou tal terremoto a milhares de quilômetros, que na pequena Königsberg, o filósofo Imanuel Kant atrasou seu pontualíssimo passeio vespertino. Ainda assim, esse simbólico acontecimento era insuficiente para trazer uma mudança substancial. Era preciso muito mais.

O símbolo só tem poder quando o seu significado está enraizado em algo maior, quando liga-se a centenas e milhares de atos significativos que dão ao símbolo o seu peso e a sua força. Somente as lutas que o antecedem e aquelas que o sucedem lhe proporcionam o devido valor. Não basta um momento para mudar uma história. São precisos incontáveis atos de coragem e de enfrentamento, nem sempre registrados nas páginas da historiografia oficial, para mudar o tortuoso curso do rio e trazer uma nação de volta à vida.

(…) Mas o nazismo não foi um acidente terrível que caiu de repente sobre o povo alemão. Ele estava fundado na história desse povo, e ao passo que é verdade que a maioria dos alemães nunca votou em Hitler, é verdade que treze milhões o fizeram. Ambos os fatos têm que ser lembrados”[1] Sem dúvida alguma, o nazismo era algo muito maior do que Hitler. A morte dele não era o fim.

O dia 31 de março de 1964 também foi um momento e um símbolo. E o marxismo cultural o denegriu e o apagou da mente de uma geração. Distorceu mais uma vez a história, como é de seu costume, transformando em derrota, um momento de triunfo da nação. Até hoje a luta é imensa para fazer que com que a luz da verdade histórica brilhe sobre aquele dia. Que o mesmo não aconteça com o 4 de abril de 2018.

A luta acabou? Não, não acaba nunca. E se pensamos que acabou, estaremos acabados em bem pouco tempo. A batalha contra o mal não cessa nunca. Pois o embate contra o mal ao nosso redor é apenas reflexo do conflito em nosso interior. E tanto um quanto a outro nunca cessarão. Não é hora de baixar a guarda, mas de reforça-la.

Portanto, tomem um novo vigor para suas mãos cansadas e firmem-se em suas pernas trêmulas, e tracem um caminho reto e plano para seus pés para que aqueles que seguem vocês, embora fracos e mancos, não caiam nem se firam, mas sim tornem-se fortes.[2]

Claro que a maldade da esquerda não é a única contra a qual se deve lutar. Todavia, essa ideologia faz, por sua própria natureza, imperar a injustiça como se fosse justiça e o engano como se fosse verdade. Não se pode permitir que sob o enganoso manto da “justiça social” toda uma nação seja levada a trilhar o caminho que haverá de destruí-la. O caminho de Chaves, de Maduro, da Venezuela não pode ser o nosso destino.

Ao invés de acabar, a luta agora começa. Não contra o mal que nos nasceu e em nosso seio foi gerado. E sim contra o próprio ventre que o gerou. A contragosto encerro este artigo citando Brecht:

Os povos se apagaram, mas não sejamos afoitos em cantar vitória: o ventre que o gerou ainda é fecundo.[3]

[1] VOEGELIN, Eric. Hitler e os alemães. São Paulo: É Realizações, 2008, p. 203
[2] Carta aos Hebreus 12.12, 13
[3] Citado em HITLER, pró e contra. Série O julgamento da História. São Paulo: Melhoramentos, 1975, p. 159

Pastor, jornalista, professor de teologia e história no Vale da Bênção. Palestrante nas áreas de apologética, seitas, escatologia, Israel e vida matrimonial.

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