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estudos bíblicos

O que a Bíblia diz sobre dízimos e ofertas

Estudo bíblico sobre o dízimo e as ofertas com base no Antigo e Novo Testamento explorando a questão se eles são válidos para hoje.

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Pote de moedas. (Foto: Eric Muhr on Unsplash)

A base bíblica para os dízimos e as ofertas

Os dízimos no Antigo Testamento

Antes da Lei

Há duas palavras no hebraico do Antigo Testamento para dízimo, que são aser e ma aser, ambas significando décima parte e dar a décima parte. Dizem respeito a prática de dar um décimo da renda ou propriedade de uma pessoa como oferta a Deus. Esse costume fora comum entre os povos pagãos, mesmo antes da regulamentação na Lei mosaica, mas da qual tomamos conhecimento pela primeira vez na Bíblia através do gesto voluntário de Abraão, que entregou dízimos ao sacerdote e rei Melquisedeque (conf. Gn 14.17-20).

Além de Abraão, ainda antes da Lei, temos o patriarca Jacó aliançando-se com Deus para entregar os “dízimos de tudo” ao Senhor, sob a condição de que fosse conduzido em paz e fosse trazido novamente à casa de seu pai (Gn 28.22). Não sabemos em que momento e a quem exatamente Jacó entregou estes dízimos, visto que certamente Melquisedeque, a quem seu avô Abraão entregara os dízimos, não vivia mais. Em todo caso, com Abraão e com Jacó vemos a atitude espontânea (de própria iniciativa) e voluntária (sem obrigação legal) para a entrega da décima parte de suas propriedades ao Senhor.

Após a Lei

Com a Lei de Moisés, os dízimos passaram a fazer parte regular do culto ao Senhor, e receberam prescrições detalhadas, algumas vezes complexas até para o entendimento do leitor moderno. Os três textos fundamentais no Pentateuco que fundamentam a entrega dos dízimos são: Levítico 27.30-32, que afirma que o dízimo da terra incluiria a semente da terra e o fruto da árvore, além da separação de um em cada dez animais de seus rebanhos e manadas para o Senhor; Números 18.21-32, que fala da entrega dos dízimos aos levitas, visto que estes não haviam recebido terra por herança; Deuteronômio 12.5-7,11-12,17-18, que instrui o povo a levar todos os dízimos acumulados para o lugar que Deus determinaria.

Com a construção do templo em Jerusalém e uma nova organização do culto, a arrecadação dos dízimos ficou ali concentrada no espaço que veio a ser chamado de “casa do tesouro” (Ml 3.10) ou “casa de depósitos”, que era construção para armazenar bens do templo, localizada junto ao templo, no pátio externo (1Cr 26.15,17). Sobre a casa do tesouro, William Greathouse comenta com mais detalhes:

“Este lugar era indubitavelmente a grande câmara que rodeava três lados do Templo. Mais ou menos nessa época, Tobias a desviou de seu propósito original, que era servir de depósito dos dízimos e ofertas alçadas do povo, e designou-a ao sumo sacerdote. Mas Neemias a restabeleceu à sua finalidade apropriada (Ne 10.38; 13.5-9,12,13). T. T. Perowne escreveu com competência: “Não é improvável que as ‘câmaras’, que eram contíguas à altura de três andares nas paredes do Templo de Salomão, tivessem sido projetadas para servir de depósito (1 Rs 6.5,6). Na grande reforma feita por Ezequias, foram ‘preparadas’, ou construídas ou restauradas, em alguma parte da área do Templo para receber o enorme afluxo de dízimos e ofertas (2 Cr 31.11,12)” [1]

Os propósitos do dízimo

A entrega dos dízimos, sob a lei mosaica, buscava tornar os crentes solidários tanto das necessidades dos ministros do culto, como do culto propriamente e dos demais membros da comunidade que viessem a padecer necessidades. Assim, o tríplice propósito dos dízimos era:

  1. Prover sustento dos levitas (inclusive sacerdotes), que eram responsáveis pelo tabernáculo e pela adoração (Nm 18.20-24);
  2. Prover recursos para as diversas festas e sacrifícios (Dt 14.22-26), algumas inclusive se prolongavam por mais de um dia de alegre celebração e ação de graças;
  3. Prover fundos para ajudar os pobres, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros (Dt 14.28,29).

A viúva que lançou na arca do tesouro as únicas moedas que tinha (Lc 21.2), não ficaria sem provisão devido seu gesto de fé, visto que, como se viu no último ponto acima, a arrecadação acumulada na “casa do tesouro” retornaria para ela em provisão conforme suas necessidades.

Aliás, visto que não havia sistema previdenciário em Israel nos dias de Jesus, é muito provável que aquelas duas únicas moedas ofertadas pela viúva já tenham sido, outrora, parte de algum auxílio que ela tenha recebido (se assim o for, a exemplo dos levitas no Antigo Testamento que também entregavam o dízimo dos dízimos a que tinham direito, esta mulher estaria entregando seu “dízimo dos dízimos” ou “oferta das ofertas”. Que exemplo!

Não há nenhuma necessidade que seja tão grande a ponto de não nos permitir repartir e demonstrar solidariedade para com outros).

O dízimo no Novo Testamento

Não há uma doutrina sistematizada, mas…

No Novo Testamento, a palavra dízimo aparece somente seis vezes, e, com exceção de uma única ocorrência (Mt 23.23), nenhuma delas prescreve uma ordenança neotestamentária para a prática do dízimo, senão apenas mencionando a prática já existente entre os judeus (Conf. Lc 11.42; 18.12; Hb 7.5-6,8-9, nestes últimos versículos faz-se menção ao dízimo entregue por Abraão ao sacerdote Melquisedeque, que prefigurava Jesus Cristo).

Com honestidade e franqueza é preciso dizer que nem Cristo nem os apóstolos deram aos cristãos alguma instrução específica quanto ao dízimo. O texto de Mateus 23.23 ou Lucas 11.42 refere-se a uma censura feita por Jesus aos fariseus que, rigorosamente dizimavam até mesmo das menores e insignificantes hortaliças, enquanto desprezavam valores morais imprescindíveis como justiça, amor e misericórdia.

A crítica de Jesus é contra a hipocrisia, o culto formalista e de mera aparência, desprovido da essência da lei, que era o amor a Deus e ao próximo. Vê-se isso na oração arrogante do fariseu no templo que se gabava de dar o dízimo de tudo quanto ganhava ao mesmo tempo em que tratava os demais homens com desprezo (Lc 18.11,12).

Todavia, nesta censura de Jesus aos fariseus hipócritas têm-se o mais forte amparo neotestamentário para a continuidade da entrega dos dízimos, ainda que não mais submetido aos mesmos regulamentos complexos da lei mosaica (a graça simplifica o complexo!). Jesus não diz que os fariseus deviam abolir o dízimo em nome do amor e da justiça, antes deveriam praticar essas coisas “sem omitir aquelas”.

Ou seja, noutras palavras, Jesus está dizendo: pratiquem acima de tudo o amor e a justiça e não deixem de oferecer os seus dízimos. Isto porque dízimos e ofertas devem ser mais que uma expressão externa de religiosidade e sim uma expressão genuína de amor e solidariedade. Embora dirigida aos fariseus que ainda viviam sob o regime da Lei, cremos que esta instrução de Jesus persiste aos cristãos, já que nada é dito em contrário.

Jesus praticou o dízimo?

Não temos um texto-prova de que Jesus tenha pago o dízimo de seu trabalho. Todavia, é bem razoável concluir que em virtude de ele ter um trabalho na carpintaria e de haver ele cumprido toda a Lei (que incluía a ordenança dos dízimos; Mt 5.17-20), certamente participou da adoração no Templo muitas vezes levando seus dízimos e ofertas alçadas. Se lhe convinha cumprir “toda a justiça”, como disse a João Batista (Mt 3.15), então certamente cumpriu os mandamentos do dízimo; e se instruiu o povo a dar a Deus o que é de Deus, certamente não deixou ele mesmo de fazê-lo no tocante aos bens (Mt 22.21).

O evangelho e a graça nos chamam a ir além dos 10%

O teólogo R.N. Champlin [2] é vigoroso em sua opinião quanto à contribuição a que os crentes devem praticar em suas igrejas locais:

“Se sob a dispensação do Antigo Testamento, os privilégios religiosos exigiam a décima parte das rendas de uma pessoa, com vistas à manutenção da adoração e do sistema religioso, e também para benefício dos pobres, muito mais deveria ser nosso privilégio, em Cristo, afetarmos o bolso e a conta bancária. Minha opinião, pois, é que o crente deve dar mais do que o décimo. […] O amor é mais exigente do que a lei […] O próprio fato de que há crentes disputando sobre se devem contribuir ou não com uma miserável parcela de dez por cento mostra o baixo nível de espiritualidade em que se encontram. Quanto maior for a espiritualidade de um crente, maior será a sua liberalidade para com o dinheiro com que contribui para a causa do evangelho, ou com que alivia as necessidades das pessoas ao seu redor”

Como já dissemos, Jesus elogiou a atitude da viúva pobre que ofertou na arca do tesouro as duas únicas moedas que tinha – alguns críticos hoje, mesmo autodenominados cristãos, diriam: “como pode?! Isso é exploração! Jesus não deveria ter elogiado a mulher viúva por entregar suas últimas economias na arca do tesouro, antes deveria ter aconselhado a mulher a usar aquele pouco dinheiro para comprar algum alimento para si”.

Na verdade, aquela viúva pobre era muito mais rica que alguns cristãos hoje em dia que estão sempre buscando pretexto para justificarem sua avareza, mesquinharia e egoísmo ao não tomarem parte na contribuição que é depositada na “arca do tesouro” de sua igreja local. Alguns hoje acham custoso demais um assalariado entregar regularmente dez por cento de sua renda na igreja local, ao passo em que aquela pobre viúva entregou tudo o que tinha!

Aliás, nosso entendimento é de que o Novo Testamento não precisou sistematizar a doutrina do dízimo cristão, simplesmente porque os primeiros cristãos estavam acostumados a entregarem muito mais que a décima parte de sua renda para a obra do Senhor (que tinha aspectos espirituais e sociais).

O próprio Jesus ensinara a que, debaixo da graça, não nos contentemos com o “piso” estabelecido pela Lei, mas que superemos em muito “a justiça dos escribas e fariseus” (Mt 5.20).

O servo que só faz o que lhe é mandado, por força de uma obrigação legal, deve julgar-se a si mesmo “servo inútil” (Lc 17.10). A graça nos foi dada para que abundemos em toda boa obra (2Co 9.8), isto é, partilhemos abundantemente e não miseravelmente com os demais.

Além da viúva que foi elogiada ao entregar de coração tudo o que tinha, vê-se nos seguintes personagens o transbordar da partilha dos bens, que demonstra a pré-disposição para ofertar muito mais que a décima parte:

  1. As mulheres ricas que serviam a Jesus com suas posses (Lc 8.2,3)
  2.  Zaqueu que prometeu dar metade de seus bens aos pobres (Lc 19.8)
  3. Os primeiros cristãos que “vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade” (At 2.45), e “os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um” (At 4.34,35)
  4. Paulo que decidiu gastar e se gastar a si mesmo por amor aos corintos (2Co 12.15)

Eu não contenderia com o cristão que me dissesse que não dizima, mas oferta regularmente valores superiores aos dez por cento de seus ganhos para auxiliar nos trabalhos missionários e sociais, dentre outros, desenvolvidos por sua igreja local; mas faço oposição a todo crente que fica aquém tanto do espírito do cristianismo como até mesmo aquém do piso estabelecido pela lei mosaica.

Diga-se de passagem, muitos dos que criticam o dízimo e se julgam especialistas no assunto, são igualmente especialistas na tática da avareza e da mediocridade. Não contribuem nem com 50%, nem com 20%, nem com 10%, nem com 8%, nem com nada! São verdadeiros parasitas, que apenas querem usufruir sem participar das necessidades de sua congregação, nem se solidarizam com as necessidades de seus irmãos na fé, muitos deles pastores em tempo integral ou missionários vivendo a duras penas no campo missionário.

Julgam eles que devido os escândalos dalguns pastores mercenários (especialmente os midiáticos) que vivem nababescamente em suas fortunas amealhadas sob extorsão dos fiéis, todos os pastores são igualmente ladrões e corruptos e todas as igrejas administram mal suas finanças; logo, concluem, não devem dizimar. Na verdade, isto é só um pretexto para se justificarem.

Não conheço ninguém que tenha deixado de contribuir com o ministério de Jesus, devido Judas Iscariotes ter sido um tesoureiro ladrão! Nem nunca vi ninguém também se queixar do fato de Jesus ter deixado um larápio cuidar das finanças de seu ministério – óbvio que isso não justifica nem o mau uso da economias da igreja hoje, nem também autoriza pastor nenhum a ignorar saque aos cofres da igreja; mas demonstra como é frágil o argumento daqueles que deixam de contribuir com seu ministério local devido “ladroíce” de um ou outro administrador.

As ofertas nas Escrituras

As ofertas, diferentemente dos dízimos, são ponto pacífico entre os estudiosos da Bíblia. Desde as ofertas apresentadas por Abel e Caim (Gn 4.3-4), passando pelas ofertas alçadas de materiais para a construção do tabernáculo (Êx 25.1-7), do templo de Salomão (1Cr 29), e a reconstrução do templo nos dias de Zorobabel (Ed 5), vê-se que era comum desde os primórdios da humanidade a prática da oferta, sob vários aspectos e propósitos (quer fosse de adoração, quer fosse de celebração, quer fosse de solidariedade).

No Novo Testamento vemos igualmente a prática das ofertas sendo mantidas, com vistas especialmente ao socorro dos necessitados e ao sustento dos apóstolos, pastores e missionários. Sempre de caráter voluntário, a prática de ofertar é especialmente ensinada pelo apóstolo Paulo, como se pode ver em especial nos capítulos 8 e 9 da segunda carta aos Coríntios. Nestes capítulos aprendemos alguns propósitos das ofertas:

  1. Suprir a falta dos que pouco ou nada têm, e não para garantir o luxo de alguns privilegiados (8.13-15; 9.9);
  2. Dar prova de amor através da generosidade (8.24);
  3. Demonstrar através de atos a gratidão e exaltação do coração a Deus (9.12,13)

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