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estudos bíblicos

A mordomia das obras de misericórdia

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 11 do trimestre sobre “Tempo, Bens e Talentos”.

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Mãos em forma de prece
Mãos em forma de prece. (Foto: Amaury Gutierrez)

II. A mordomia da misericórdia cristã

1. Obras de misericórdia na prática

É indubitável que Cristo, o Filho de Deus, ofertado na cruz como um sacrifício santíssimo para redenção dos pecadores que jaziam em condenação espiritual, sob opressões demoníacas e acometidos de toda sorte de miséria física e social, é a maior expressão de misericórdia que encontramos em toda a Bíblia! De fato, podemos exclamar com o profeta Jeremias: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).

Não obstante, temos na parábola contada pelo próprio Cristo uma vívida ilustração a respeito da misericórdia: a parábola do “Bom Samaritano”, como assim ficou conhecida (Lc 10.25-37). Nela temos o registro da atitude fria de dois eminentes oficiais da religião judaica (o levita e o sacerdote), sendo contrastada pela atitude misericordiosa do estrangeiro samaritano, desprezado pelos judeus, mas que se deteve para socorrer aquele homem que jazia moribundo no caminho, devido o ataque violento que sofrera por parte dos ladrões. Todos já nos emocionamos alguma vez lendo esse texto, ouvindo uma pregação ou mesmo vendo uma apresentação teatral baseada nele; de fato, a atitude do samaritano é comovente. Entretanto, mais que emoção, Jesus deseja ação! Por isso, ao final da parábola ele ordena: “Vai, e faze da mesma maneira” (Lc 10.37).

Observemos o verbo fazer nesta ordem de Jesus, pois não raro estacionamos ainda na fase do sentir. Sentimos muita pena e até derramamos uma lágrima ao ouvir da dor de um parente, amigo ou irmão na fé, mas ainda esta lágrima nem tem percorrido toda a face e já nos esquecemos daquele necessitado. Lágrimas de crocodilo! A verdadeira misericórdia sempre faz o bem que o outro necessita. Se entendêssemos que qualquer um de nós poderia ser aquele homem atacado pelos ladrões e deixado quase morto na estrada (e não raro somos acometidos de semelhante violência), talvez percebêssemos como é bom fazer e receber misericórdia.

2. Somos criados para as boas obras

O apóstolo Paulo reiteradas vezes falou a prática das boas obras como marca da nova natureza que recebemos pela regeneração. Aos Efésios, ele diz que fomos “criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2.10), e em sua carta pastoral a Tito, ele diz Cristo “se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). É conhecido de todos esta máxima: Não somos salvos pelas boas obras, mas somos salvos para as boas obras!

2.1. Na área das necessidades humanas

De tal modo deve a fé salvífica estar ligada às boas obras, sendo estas a evidência daquela, que Tiago chega a qualificar como “morta” ou “inoperante” a fé que não se reflete em gestos de misericórdia para com o semelhante. Diz o irmão do Senhor: “E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.15-17).

Na igreja primitiva demonstrar misericórdia para com os irmãos era algo comum, de tal modo que os mais abastados repartiam seus bens com os mais carentes (At 2.47) e assim “Não havia, pois, entre eles necessitado algum” (At 4.34). Como bem anotou Towner,

“dádivas de caridade (…) Essa expressão de misericórdia era altamente respeitada na igreja primitiva (At 9.36; 10.2), e era considerada uma responsabilidade normal dos cristãos (At 24.17). Esses atos de compaixão tornam os cristãos símbolos vivos da misericórdia de Deus em Cristo (…)” [4]

Quando pedirmos a Deus que reavive em nós aquele espírito da igreja primitiva, lembremos de pedir-lhe também que reavive em nós o amor, a bondade e a misericórdia que ali se manifestavam entre aqueles primeiros crentes! E não esqueçamos que há galardão até para quem der “um copo de água fria” aos pequeninos do Senhor (Mt 10.42).

2.2. Na área das necessidades espirituais

“Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8.3; Mt 4.4). Isso serve para dizer-nos que há necessidades humanas que não se saciam com alimentos, mas com dádivas espirituais procedentes de Deus.

Há muitos que estão em miséria espiritual (vícios, idolatrias, prostituições), necessitados de nossas orações. Outros se encontram sob disciplina devido pecados que cometeram; carecem de nossa ajuda para se manterem de pé. Há muitas vidas atribuladas por pensamentos de desistência da vida e depressão, precisando de nosso amor. E há não poucos homens e mulheres escravizados por demônios, precisando que nós, em nome de Jesus e no poder do Espírito, afugentemos os espíritos malignos e coloquemos em liberdade vidas preciosas para Deus! “Em meu nome expulsarão demônios”, prometeu Jesus aos que nele cressem (Mc 16.17).

2.3 Na área da evangelização e das missões

“Podes tu ficar dormindo, mesmo vacilante,
Quando atacam outros a Belial?”

Estes versos extraídos do hino 212 da Harpa Cristã estão a nos questionar se ficaremos mesmo entregues à displicência espiritual enquanto o diabo ataca multidões pelo mundo afora. Qual será nossa resposta? Não podemos ignorar o clamor das almas no Brasil, na América Latina, nos países onde predominam as mentiras do budismo e do hinduísmo ou a falsa esperança do islamismo. Que faremos em relação aos milhões que sucumbem em meio à miséria espiritual, ainda que sob a capa da prosperidade material, nos países europeus, asiáticos e na América do Norte? Que as palavras de Carlos Inwood, reproduzidas por Orlando Boyer em seu best-seller Heróis da fé, possam despertar em nós um verdadeiro sentimento de misericórdia:

“O soluço de um bilhão de almas na terra me soa aos ouvidos e comove o coração: esforço-me, pelo auxílio de Deus, para avaliar, ao menos em parte, as densas trevas, a extrema miséria e o indescritível desespero desses mil milhões de almas sem Cristo. Medita, irmão, sobre o amor do Mestre, amor profundo como o mar, contempla o horripilante espetáculo do desespero dos povos perdidos, até não poderes censurar, até não poderes descansar, até não poderes dormir” [5]

2.4 A falta de misericórdia pelos pecadores

Quem não se lembra de Jonas, o profeta fujão? Por que razão ele não queria mesmo ir pregar a mensagem de arrependimento à grande cidade de Nínive? Deixemos que ele próprio responda para nós: “Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal” (Jn 4.2).

Pode parecer absurdo, mas Jonas não desejava que os ninivitas provassem o arrependimento e fossem salvos da condenação que pairava sobre eles. Não tem tamanha insensibilidade também maculado nossos corações hoje? Sempre que esbravejamos “Bandido bom é bandido morto”, estamos dominados por aquele mesmo espírito de Jonas, que prefere a morte ao invés da redenção dos pecadores.

Mas devemos rememorar também aquele fatídico episódio em que os discípulos Tiago e João, cognominados “filhos do trovão”, foram até Jesus sugerir-lhe sentenciar os samaritanos com o fogo consumidor, já que aquele povoado havia rejeitado Jesus. O Senhor, porém, os repreendeu: “o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Lc 9.56).

É natural que nos irritemos diante da incredulidade dos homens, da persistente rejeição ao evangelho e da entrega deliberada aos vícios e à criminalidade. Esta revolta é necessária para que não nos acostumemos com o mal; todavia, a exemplo de Paulo quando se irritou com a exacerbada idolatria que predominava em Atenas (At 17.16-18), devemos canalizar essa “ira” para a evangelização imediata e a intensificação de nossas orações em favor destas pessoas, e não fomentar um desejo reprovável pela morte e destruição delas!

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