estudos bíblicos

A mordomia das finanças

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 10 do trimestre sobre “Tempo, Bens e Talentos”.

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Dinheiro e mudas de árvores. (Foto: Nattanan Kanchanaprat / Pixabay)

Tendo falado sobre a mordomia do trabalho, agora dedicaremos atenção especial à mordomia das finanças, isto é, como devemos cuidar dos ganhos de nosso trabalho.

“Se o dinheiro é meu, faço dele o que bem quiser”, dizem alguns mais exaltados. Todavia, à luz da Palavra de Deus hoje veremos que não é bem assim, visto que no quesito dinheiro há o Dono e há o mordomo.

Quem somos nós de fato nessa questão?

I. Tudo o que temos vem de Deus

1. Deus é dono de tudo

“Minha é a prata e meu é o ouro, diz o Senhor” – estas palavras registradas pelo profeta Ageu (Ag 2.8) nos dão prova de que toda riqueza existente no mundo pertence ao Senhor, que “fez os céus e a terra” (Gn 1.1; Sl 121.2b). É importante compreender isso, visto que nenhum de nós pode julgar-se “dono do próprio dinheiro”, no sentido de achar que pode administrá-lo como bem quiser, mesmo que contrariando princípios cristãos.

Desde a primeira Lição deste trimestre temos aprendido que somos mordomos, isto é, administradores ou cuidadores dos bens materiais, físicos e espirituais que pertencem a Deus, que tudo criou. E já vimos também que nós, os mordomos, deveremos prestar contas de tudo ao Dono, como está escrito: “Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mau” (Ec 12.14).

Assim, cabe aqui uma pergunta para nossa autoavaliação: como temos ganho e administrado nosso dinheiro?

2. O trato com o dinheiro

Há alguns erros terríveis que precisam serem corrigidos no trato com o dinheiro, dentre os quais destacamos dois: (1) venera-lo como se fosse um deus ou (2) usá-lo prodigamente sem nenhuma responsabilidade. Você pode pensar que somente pessoas descrentes cometem esses erros, mas lamentavelmente há muitos adoradores de Mamom por aí, entre os que se dizem cristãos, bem como há também “filhos pródigos” gastando levianamente todas as suas economias.

Algumas pessoas vivem uma ambição desenfreada por dinheiro, topando todo e qualquer “trabalho” para angariar mais e mais “grana”. Se transformaram em escravos de Mamom (termo grego para dinheiro – conf. Mt 6.24), e já não têm mais tempo para a família, para a igreja, para as devoções particulares e nem mesmo – veja só o absurdo – tempo e saúde para aproveitar o próprio dinheiro que ganha! Se os tais observassem bem, veriam que em cada nota de Real há uma pequena frase escrita: “Deus seja louvado!”. Esta frase deveria ser um lembrete para que Deus, o Senhor e Criador, seja sempre entronizado em nossas vidas, não o dinheiro de papel ou metal!

Quanto aos filhos pródigos (termo que significa “esbanjador, gastador, que distribui bens sem limites”), deveriam eles se lembrar que “a aparência deste mundo passa” (1Co 7.31), que o mal que sucede ao ímpio também sucede ao justo (Ec 9.2), e que, em razão das constantes adversidades da vida, deveriam eles tomarem o exemplo da formiga, que “armazena suas provisões no verão e na época da colheita ajunta o seu alimento” (Pv 6.8). O lema do pródigo é carpe diem, isto é, aproveite o dia, e assim nunca deixa para amanhã o que pode gastar hoje. Nessa onda, o pródigo dissipa todos os seus bens, amontoa dívidas impagáveis e coloca-se a si mesmo sob ameaças e aflições de espírito. Ao contrário disso, a mulher virtuosa é aquela que “sorri diante do futuro”, porque se precaveu em trabalhos e economias (Pv 31.25, ver contexto); e o homem de bem “deixa herança aos filhos de seus filhos” (Pv 13.22).

Mais uma pergunta para não perdermos o hábito de nos avaliarmos: estamos louvando a Deus com o nosso dinheiro, ou estamos louvando ao nosso dinheiro como um deus?

3. Cuidado com a falsa prosperidade

Ninguém discorda da importância do dinheiro para a manutenção de uma vida digna e sossegada; ninguém também usará de falsa modéstia para afirmar que não deseja uma vida financeira ao menos estabilizada e tranquila para toda sua família. Sim, o dinheiro é necessário para muitas coisas, embora não resolva tudo (por exemplo, salvar a um pecador da ira divina – Pv 11.4; Sf 1.18); e sim, todos queremos uma vida financeira estável, sem miséria ou mendicância (Pv 30.8).

Essa é a verdadeira prosperidade: desfrutar de uma vida tranquila e sossegada junto de nossa família (1Ts 4.11), tendo de Deus “o pão nosso de cada dia” (Mt 6.11), além de condições de poder repartir com os santos e socorrer os que vierem a ter necessidade (1Tm 6.18; Ef 4.28). Isso é ser abençoado!

Por outro lado, a falsa prosperidade é aquela advinda de lucros desonestos e de ganhos ilícitos (não raro fruto de crime e estelionato!). Há ainda a falsa prosperidade que, mesmo sendo fruto de trabalho legítimo e árduo, não é consagrada a Deus, senão aos “prazeres e deleites da carne” (Tg 4.3). Muitos, consciente ou inconscientemente, se aliançaram com satanás para receberem dele “todos os reinos do mundo e o seu esplendor” (Mt 4.8, NVI), e agora vivem esbanjando suas mansões, carros de luxo, joias preciosas, além vinhos caríssimos. Ignorantes da verdadeira riqueza que procede da benção de Deus, dizem para si mesmos: “estou prosperando!”, mas não sabem que diante de Deus são loucos! (Lc 12.16-20).

Ainda pior, há igrejas torcendo as Escrituras para promoverem a “Teologia da Prosperidade”, acostumando seus membros às ambições materiais e demonizando a pobreza, ao invés de instrui-los a viverem modestamente, confiando em Deus e não nas riquezas. Enquanto Jesus diz “não acumulem para vocês tesouros nessa terra” (não reprovando a riqueza em si, mas a ambição por ela), os teólogos da prosperidade dizem “acumulem sim tesouros nesta terra”; enquanto o apóstolo Paulo ensinou que devemos estar contentes “tendo o que comer e com que nos vestir” (1Tm 6.8), os vendilhões do templo ensinam “não se contente com esse seu carro popular, venha participar da fogueira santa de Israel, deposite a sua oferta e você receberá de Deus um carro importado”. A ganância que foi contundentemente reprovada por Cristo e pelos apóstolos (Lc 12.15; 1Tm 3.8; Tt 1.7,11; 1Pe 5.2; Jd 1.11) é hoje exaltada em muitos círculos pretensamente evangélicos!

Jamais nos esqueçamos do que nos ensinou o nosso Senhor: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade de seus bens” (Lc 12.15, NVI).

II. Como o cristão deve ganhar dinheiro

1. Trabalhando honestamente

Especialmente no último tópico da Lição passada, já vimos como o trabalho honesto e diuturno deve ser a legítima fonte de recursos para a nossa sobrevivência. O apóstolo Paulo foi muito contundente chamando os crentes tessalonicenses para o trabalho, a fim de se manterem sem ter que sugar as economias alheias (1Ts 4.11,12; 2Ts 3.6-15).

A sabedoria dos Provérbios bíblicos também nos conclama ao trabalho diligente como meio de sustento: o “homem virtuoso” trabalha a sua terra e tem fartura de alimento (Pv 12.11); a “mulher virtuosa” trabalha com as mãos (Pv 31.13). Se Paulo disse que o preguiçoso deveria não se alimentar, Salomão ensinou, em tom bem humorado, que o trabalhador trabalha “porque a sua boca o incita” (Pv 16.26), isto é, ele precisa se alimentar e para isso vai trabalhar! De fato, trabalho e comida estão intimamente relacionados na Bíblia sagrada.

O texto de Provérbio 12.11 alerta contra os “sonhos” e as “fantasias” de enriquecimento fácil, e chama-nos ao trabalho diligente para garantirmos as provisões diárias de nossa casa. Veja esta bela paráfrase da Bíblia Viva: “Quem trabalha com afinco e se cansa plantando e colhendo terá muito alimento para sua família; quem fica apenas sonhando com um serviço melhor é um tolo”. Você conhece algum tolo sonhador?

2. Fugindo das práticas ilícitas

Relembrando um antigo e famoso programa da Tv brasileira, eu diria que o lema da vida de muitos crentes bem poderia ser este: “topa tudo por dinheiro”. Uns vendem a alma à agiotagem, outros se vendem à corrupção política; uns gastam seu dinheiro naquilo que não é pão (Is 55.2), apostando em jogos de azar, outros há até que se envolvem em atos ilícitos, jurando a si mesmos que farão isso “somente uma vez na vida”, e logo se veem acorrentados por satanás na criminalidade. A princípio são caminhos que parecem bons, mas no final se revelam mortais! (Pv 14.12; 16.25).

Há dinheiro e riquezas que não valem a pena. E, literalmente, que pena terrível cumprirão aqueles que ao invés de se dedicarem ao trabalho honesto buscarem o atalho dos ganhos ilícitos! Muitos estão cumprindo pena da cadeia agora, além de terem seus nomes jogados no ventilador da mídia e das redes sociais, quando satanás outrora astutamente lhes havia prometidos “sigilo total”. Pois é, o crime não compensa!

Bem disse Salomão e é bom que atentemos para isto: “O sono do trabalhador é doce, quer coma pouco, quer coma muito…” (Ec 5.12). Trabalhar, pagar suas contas, voltar para sua família, ter um sono tranquilo à noite… Isto sim é que é ser um homem abençoado! Livre de ganância!

3. Fugindo da avareza

Novamente vemos um diálogo entre os escritos de Salomão e de Paulo: o sábio poeta dizia que “o que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro… isso é vaidade” (Ec 5.10), enquanto que o apóstolo do Senhor dizia que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10).

A avareza precipitou Judas Iscariotes no inferno, levando-o a vender seu Mestre por míseras moedas! (Mt 26.15) A avareza impediu que um jovem rico cruzasse o limiar da salvação, quando ele estava tão perto de Jesus. “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”, disse Jesus lamentando aquele triste episódio do jovem rico que lhe virou as costas, recusando renunciar ao deus Mamom (Mt 19.24).

Deus nos guarde da veneração ao dinheiro, da ambição desenfreada por bens terrenos! A ambição pelo poder, a sexualidade desregrada e a ganância pelo dinheiro constituem a mais terrível tríade que este mundo pode conhecer, e pela qual verdadeiros gigantes da fé que não vigiaram nem mantiveram prudência vieram a cair em escândalos terríveis! Que possamos dizer como o salmista Davi: “SENHOR, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim” (Sl 131.1, NVI).

III. Como o cristão deve utilizar o dinheiro

1. No orçamento familiar

O trabalho só vale a pena se dele pudermos tirar provisões para nossa casa. Tanto marido quanto mulher, e ainda também os filhos que trabalham, devem todos contribuir financeiramente para o orçamento doméstico, custeando as despesas comuns: água, energia, internet, alimento, higiene, etc. Não é justo que o trabalhador seja em casa só “consumidor”, mas não “colaborador”, e gaste seus ganhos apenas consigo mesmo e com amigos ou projetos extrafamiliares!

Não nos esqueçamos da séria advertência paulina: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior que o infiel” (1Tm 5.8). Observe que a mulher virtuosa de Provérbios 31 traz provisões para dentro de casa, auxiliando seu marido. Observe também que o homem bem-aventurado do Salmo 128 come em casa, acompanhado da esposa e dos filhos, do fruto do seu trabalho. E observe ainda que aos filhos é ordenado honrarem seu pai e sua mãe (Ef 6.1-3), e também “recompensar seus pais” (1Tm 5.4). Ora, não deve esta honra e recompensa dos filhos passar pela retribuição financeira e auxílio no orçamento doméstico? Portanto, pecam aqueles que gastam todo seu salário fora de casa ou partilham apenas migalhas com sua família!

2. Na igreja do Senhor

Este ponto já foi satisfatoriamente estudado quando na Lição 7 tratamos sobre “A mordomia dos dízimos e das ofertas”. Apenas sintetizo aqui que assim como participamos do orçamento doméstico, devemos participar do orçamento eclesiástico, visto que igualmente consumimos dos bens materiais e, ainda mais, dos bens espirituais nas nossas igrejas locais.

Há quem se queixe que o assunto “dízimos e ofertas” não é claramente ordenado pelos apóstolos de Cristo. Mas se é base neotestamentária que os tais procuram, então que ao menos coloquem em prática este imperativo paulino: “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gl 6.6, ARC). A propósito, você tem repartido de seus bens com a igreja onde seu pastor e professores da Escola Dominical lhe instruem? Não falta base neotestamentária para este assunto, falta mesmo é amor, generosidade e liberalidade no coração de muitos crentes!

3. Na sociedade civil

Em seu sermão O uso do dinheiro, o famoso pregador inglês John Wesley nos ensina um método interessante para a verdadeira prosperidade financeira, e que é bíblica, ressaltando inclusive a generosidade para com os que estiverem em necessidade. Dizia aquele pregador metodista: “Tendo ganhado e economizado, em um sentido correto, tudo que puderem; a despeito da natureza, costume, e prudência mundana, deem tudo que vocês puderem. Vou chamar esse método de “O GPS de Wesley” ou “O GPS das finanças”:

Ganhar (como salário) o máximo possível,
Poupar (como economia) o máximo possível,
Servir (como partilha ao necessitado) o máximo possível.

Creio que esse método simples é devidamente bíblico e muito eficiente! Como mordomos das finanças, precisamos buscar ganhar (sem louca ganância) o melhor salário que nos é possível; poupar (sem tola mesquinharia) todas economias que forem possíveis, levando em conta que imprevistos e más eventualidades podem acontecer (desemprego, enfermidade, acidente, etc.); e servir (“jamais esquecendo dos pobres” – Gl 2.10) aqueles que vierem a necessitar, seja nossa família, igreja local ou amigos.

O apóstolo Paulo instrui que aqueles que foram agraciados por Deus com riquezas terrenas devem praticar o bem e serem ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir (1Tm 6.18). E com uma promessa, sob inspiração divina: “Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida” (v. 19). Agora já sabemos como “acumular tesouros nos céus”, como dizia Jesus: é usando os tesouros terrenos para fazer o bem aos que precisam, exercendo generosidade e demonstrando amor!

Você é parceiro de algum projeto social na sua igreja ou na sua cidade? Já experimentou ser mantenedor de uma instituição de caridade? Talvez você se justifique dizendo que seu dinheiro é curto até mesmo para as despesas de casa; mas eu lhe respondo pela Bíblia: “A alma generosa prosperará, e quem dá alívio aos outros, alívio receberá” (Pv 11.25), e “Deus é poderoso para fazer que lhe seja acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transborde em toda boa obra” (2Co 9.8). Você crê na Palavra de Deus, irmão? Então pratique-a e tome posse das promessas que são para você!

Conclusão

Numa nota de 0 a 10, como você avaliaria sua administração das finanças? Seja sincero. Se sua avaliação está na faixa dos 8 a 10, glórias a Deus por isso, e prossiga melhorando, corrigindo maus usos do seu dinheiro. Se sua nota está entre 6 e 7, você precisa melhorar muito, tomando firmes decisões na vida (cortando gastos supérfluos, aplicando suas economias em coisas realmente úteis para toda sua casa e livrando-se das dívidas).

Agora, se sua autoavaliação está abaixo de 6, então você precisa de um milagre urgente! Mas faça a sua parte, como a viúva de quem os credores queriam tomar os filhos como escravos (2Re 4.1-7): ela recebeu de Deus a multiplicação do azeite, mas precisou vender (trabalhar), pagar as dívidas (livrar-se de sua maior aflição) e então viver dignamente do resto ao lado dos filhos. Em oração, peça o socorro de Deus; e quando este socorro vier, não seja negligente, trabalhe corajosamente, cumpra seus compromissos financeiros, seja mais prudente daí pra frente na administração das finanças e finalmente desfrute de tranquilidade em sua família. Deus vai lhe ajudar.

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