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“A grama é verde?”: quando não mais se enxerga o óbvio

O processo, que é o meio, virou um fim em si.

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Grama. (Foto: Chang Qing / Unsplash)

K. Chesterton (1874-1936) dizia que chegaria o tempo em que teríamos de provar que a grama é verde! Bem, esse tempo chegou. É inacreditável o que temos visto na atualidade, na multiplicidade de assuntos com os quais lidamos, graças à tecnologia (redes sociais, sites, blogs, twitters, imagens, etc.), e à “fome” que em nós foi criada, pelos veículos de mídia, para que conheçamos. O que a esmagadora maioria faz com esse conhecimento, porém, é outra história.

Uma coisa é certa: a enxurrada de informação com que temos de lidar atualmente, às vezes é um empecilho para que filtremos até o óbvio. O que era proibido pela medicina, ontem, é indispensável hoje.

Ações incentivadas pela cultura, no passado, atualmente são “politicamente incorretas”. Tudo parece mudar muito rápido sem, contudo, um filtro que nos oriente nos porquês, e isto nos leva a, eventualmente, termos de ajudar àqueles que nos ouvem ou leem a se lembrarem de que a grama é verde.

Este fenômeno se dá por causa, também, da avidez com que determinados grupos tentam, à força, mudar conceitos. A inversão da realidade, proposta como técnica de subversão necessária para que um determinado grupo venha a ser dominado, é o que acontece a olhos vistos, de forma acelerada, no Ocidente.

Contudo, ao contrário do que muita gente crê, não vejo, por hora, nenhum grande orquestrador geopolítico para isso, como membros de famílias ou associados Iluminatti em algum bunker subterrâneo, rindo entre si por deterem os poderes ocultos de uma Nova Ordem Mundial.

O que vejo é o caminhar irreversível de uma sociedade que, aqui e acolá, demonstra ter grupos com enorme poder, sim, mas que caminha mais ou menos uniforme, por diversos motivos, rumo a uma Nova Ordem Mundial, não necessariamente dirigido por um grupo secreto, antes, surgindo como reflexo imediato e natural de uma série extensa de erros que, como civilização, temos cometido, os quais vão da geopolítica às relações interpessoais, àquilo mesmo que definimos como “cultura”.

Neste caldeirão de confusão, de derretimento das instituições, das ideias, dos antigos paradigmas, bons ou maus, emerge uma sociedade que, como toda a sociedade, tenta criar identidade para si, basear-se em algo, existir sob normas mais ou menos regulares, sem as quais ela própria se dissolveria, é claro. Todavia, o problema consiste justamente aí! o objetivo fundamental desta civilização – encontrar propósito em sua existência – transformou-se em um inimigo geral da própria civilização! Explico: elites intelectuais da sociedade tentam, a todo custo, há décadas, expulsar qualquer tipo de propósito geral ou particular da sociedade.

As massas, por sua vez, também expulsam quaisquer propósitos superiores, não porque esta ação seja consciente, pelo contrário, é inconsciente e se dá porque é algo com que aquelas não se preocupam. O resultado é a desconstrução da bases civilizacionais por nada, pelo puro, simples e positivo processo de a sociedade, ao longo das eras, dar a si própria um propósito com o qual ela mesma deva se comprometer.

Assim, facilmente percebemos porque valores, por exemplo, em nossa era, podem mudar diametralmente. Porque parecemos, no todo, uma sociedade desgovernada, que não existe, mas subsiste, caminha e segue adiante, como um cachorro que late ao lado de um carro: o latido se dá porque o carro está andando, somente; o cachorro não sabe o que fazer quando o carro para.

O processo, que é o meio, virou um fim em si e só uma coisa pode dar alguma sustentabilidade para que este prossiga: a reinvenção, para que um fim não seja assim percebido, mas fins, como círculos que se sobrescrevem e que, depois dos tais escritos, não se sabe dizer se foi feito um ou uma centena, uma vez que estão sobrescritos. O que resta à sociedade é seguir adiante, sobrescrevendo círculos, criando novos propósitos que, por si só, serão os próprios princípios reguladores da sociedade. Isto assemelha-se a uma autofagia, quando o indivíduo devora a si mesmo(a) para que possa continuar vivo(a).

É aqui que, portanto, as coisas ficam estranhas. Como não há um processo definido e entendido como superior (como quando Deus era visto como um fim, não somente para os homens, no geral, mas para o homem, no singular), os processos se legitimam ou deslegitimam a si próprios, o que se vê em tendências que vem e vão, em modismos que surgem e desaparecem, em pensamentos que são revistos, reavaliados e tende-se a deixa-los mesmo, principalmente porque o processo precisa prosseguir adiante, gerando outros processos, devorando neste modus vivendi a tudo o que ficou no passado.

Deste modo, se esquece cada vez mais rápido o que foi sem se dar muita importância se o que foi, foi bom ou não, além de também nos importarmos cada vez menos pelo que estamos trocando o que foi: “o que será, será melhor do que o que foi?”, é uma pergunta que, quando feita por aqueles que questionam o processo de autofagia social ao qual nos acostumamos, incomoda. Há vários modos de se fazer esta pergunta e vários modos de se incomodar com a mesma!

Neste ínterim, nessa transição à que estamos todos submetidos, concordando ou não, é natural que se clame por lucidez por aquilo que estamos vivendo. Lucidez espiritual e intelectual.

Numa era de personalismo barato, insistência em uma superioridade relativa da ciência (que só se concretiza nos filmes e livros de ficção científica), misticismo ao gosto do freguês, pseudo-intelectualismo cristão e não-cristão, ideologia como jornalismo, fake news que não mais chocam, dormência extrema quanto ao assuntos ético-morais, pragmatismo científico, tecnológico, educacional e até nas relações; numa era de minimalismos grandiosos, distorções da verdade, baixeza como nunca se viu, inversão de princípios básicos de autoridade, da lógica sendo usada para assassiná-la, do xingamento de crianças pela rede que detém um programa com o nome “Criança” no título; numa era em que as pessoas não mais se constrangem por ovacionar bandidos, aos gritos e prantos, mais do que nunca precisamos de um Norte, uma palavra, uma luz, um lampejo de esperança afim de que não terminemos devorando-nos a nós mesmos, acabando por nos congratularmos por termos descoberto que “o propósito da vida é não ter propósito algum”.

E creia-me, prezado(a) leitor(a). Esta esperança se encontra não em uma ideia, um pensamento revolucionário, uma fantástica ideia científica ou na descoberta de uma substância que nos dará um potencial ilimitado de energia. Esta esperança não é um sistema, um conjunto, uma coisas inventivas, não é meramente material ou exclusivamente transcendental. Esta esperança não é algo, não é uma energia ou força, não é um apelo vazio. Esta esperança é uma pessoa. É Jesus.

Bacharel em Teologia e Filosofia. Pós-graduado em Gestão EaD e Teologia Bíblica. Mestre e Doutorando em Filosofia pela UFPE. Doutor em Teologia pela FATEFAMA. Diretor-presidente do IALTH -Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades. Pastor da IEVCA - Igreja Evangélica Aliança. Casado com Patrícia, com quem tem uma filha, Daniela.

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